Trinta e sete anos e meio depois, Brasil volta a ter preso político

De Eduardo Campos*, com ilustração de Eneko.

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450 meses
37,5 anos
Mais de 328 mil horas
Mais de 19 milhões de minutos
Mais de 1 bilhão e 180 milhões de segundos

Estes números traduzem a triste realidade desse 7 de abril para o Brasil e os brasileiros. Significam o tempo decorrido entre a libertação do último preso político da ditadura militar em nosso país e a detenção do primeiro preso político da ditadura do Judiciário e da grande mídia que se instaurou entre nós, depois de golpe desferido em 2016, por um parlamento corrompido, contra uma presidente legitimamente eleita pelo povo.

Em 7 de outubro de 1980, era solto, em Fortaleza, José Sales de Oliveira, que havia sido condenado à prisão perpétua e mais 84 anos, por crime contra a segurança nacional. Com a Anistia, a pena foi reduzida para 16 anos, 8 meses e 16 dias. Com a metade já cumprida, Oliveira deixou o cárcere, aos 38 anos de idade. Os dados estão na edição de 8 de abril de 1980 da Folha de São Paulo, em sua página 8.

Em 7 de abril de 2018, é preso, em São Paulo, o maior presidente da história do Brasil, condenado a 12 anos e um mês, por contrariar interesses das elites dominantes, em particular do capital financeiro, temerosas de seu retorno ao governo. O desmonte de direitos sociais adquiridos pelos mais pobres, a entrega de nossas riquezas para os estrangeiros, a mitigação de uma já combalida democracia, nada disso pode ser desafiado com o risco de as esquerdas empalmarem de novo a fatia de poder que lhes foi roubada. Assim, mobilizaram seus agentes, no Judiciário, no Ministério Público, no Parlamento, na mídia, em particular no império da Globo, tendo a retaguarda das Forças Armadas, para impedir uma nova virada.

A aposta, agora, é no tempo que a nova ditadura vai conseguir manter preso Luís Inácio Lula da Silva e no tempo que ela própria será capaz de sobreviver. A resposta, com certeza, está nas ruas, nas fábricas, nas escolas, na periferia, nas comunidades negras, LGBT e indígenas, nos movimentos dos sem terra e sem teto, nas lutas sociais, enfim.

(*) Jornalista e advogado em Belo Horizonte, especial para os Jornalistas Livres

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