Entro no metrô no meio da tarde desta segunda-feira. Meus novos amigos, jovens aprendizes indígenas, querem mostrar-me uma nova terra reconquistada. Eu, já nos pêlos brancos, vou com eles aos desbravamentos de Guarulhos, a vizinha e insólita cidade da capital maior.

 

Muitos daqui se surpreendem ao saberem da grande população indígena e suas várias etnias residentes em Guarulhos, São Paulo e Osasco. Entre tantos milhões há pernas antigas, caminhadas longas e um olhar indígena invisível pelas vielas e esquinas.

 

Espanto-me, tão longe fica minha vizinhança e seus segredos. A terra nova está sobre dois buracos de tatus gigantes, furos de concreto na montanha, túneis do rodoanel que persistem na busca de novos caminhos e saídas para o tráfego.

Ah,  é Guarani, Caeté, Pankararu, Pankararé, Caimbé, Tupi, Wassu, Xukuru. A aldeia multiétnica Terra Sagrada ocupará 130 mil metros quadrados de área de mata ao norte da cidade de Guarulhos, entre tantos alvoroços que se anunciam nas obras.

Brilham os olhos de meus amigos, sorriso largo na boca, tanto apreço pelo território. A noite chega e todos querem voltar para São Paulo, pois na Pontifícia Universidade Católica irão cantar e dançar para seus parentes indígenas que colam grau.

Tudo impressiona, a persistência e a identidade: sou índio, quero terra e tenho diploma. Índio de beca e chocalho na mão, coisa boa de ver. A metrópole desperta.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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