Depois da chuva abundante, depois do frio intenso, as indignações aquecem, secam e ferem como espeto de caatinga nossa consciência, perturbam nosso sono, deprime nosso orgulho.
Presidentes cassados ao império da lei, e indígenas à margem dela, sob o trato da bala, das porradas nacionais que há séculos se aplicam no lombo e abdome de quem nega abrir mãos dos direitos, humano e constitucional.
O que dizer desse conflito, que se arrasta e se agrava a cada dia em nosso solo, nação, que renega os povos indígenas ao quarto dos fundos do país?
Na imagem desbotada da vida em Mato Grosso do Sul, o exército é descalço, descamisado e suas armas são de paus e grito, as condecorações e patentes são de urucum e jenipapo. No olho de cada índio o medo, mas a força e vontade da liberdade também.
Se os tratam como ratos, nós gritamos não. Não podemos mais, em tempos tão incertos, carregar essa chaga e nos cegarmos como cidadãos diante da barbárie, se nos queremos uma nação democrática.
Basta. Nenhum direito a menos. Exigimos uma solução. A mão que ataca quer propriedade. A mão que afaga e toca o solo de sangue do Mato Grosso do Sul quer o direito ancestral e inviolável à vida e à dignidade.
Como efetivar o processo demarcatório das terras tradicionais indígenas? Como barrar esse movimento contrário às demarcações? Como contrabalancear esse poder que os produtores rurais estabelecem no estado brasileiro?
Essas são perguntas que chovem e ficam fazendo poça e barro no caminho que queremos trilhar na nova ordem.