Sonhos destruídos na Pensão do Cícero, na região da Cracolândia em SP

Fachada da Pensão do Cícero, Rua Hevéltia, centro paulistano, na região da Cracolândia. Foto: Laura Capriglione/Jornalistas Livres

Texto de Kátia Passos e videorreportagem de Laura Capriglione

Numa das pensões mais tradicionais da Rua Helvétia, abrigo de muitos imigrantes nordestinos, mostramos o despejo das famílias e a retirada de seus pertences. É muita dor, desespero e humilhação para famílias extremamente pobres que foram avisadas de maneira truculenta e humilhante durante a madrugada que teriam que desocupar o lugar. São sonhos de uma vida inteira despejados dos quartos, fotos rasgadas, roupas atiradas à esmo no chão, crianças que estão começando suas histórias, sendo arrastadas para o vale da tristeza, da amargura numa São Paulo fria e chuvosa neste domingo (21/5).

A Guarda Civil Metropolitana, Polícia Militar, a Polícia Civil e a Prefeitura estão no local. Cumprem o papel de algozes que o Estado lhes deu. Muitos, provavelmente, não gostaram de estar ali, mas não têm escolha. De uma maneira ou de outra, também são condenados pela opressão que os gestores do Estado e Município impuseram às suas vidas e carreiras.

A pensão será emparedada, ou seja, serão construídos bloqueios de concreto e cimento, nas entradas da moradia.

Dentro do local, a todo instante, o Major Miguel Elias Daffara, do 13º BPM e responsável pela operação alerta os moradores para pertences não sejam deixados no local. A preocupação dele é para que nenhuma criança, por exemplo, seja esquecida e fique presa no que um dia já foi um lar.

O tempo dado para os moradores saírem do local é curto e eles não têm para onde ir. É o caos do caos do túnel da tristeza sem fim.

“A Polícia Militar, a Civil e a Guarda Civil Metropolitana estão aqui para tomar posse do que é do Estado, do que é bem público. A Cracolândia era uma aberração. Até onde sei houve uma ação judicial e a a prefeitura fez um plano para urbanização da Nova Luz. Essa operação foi planejada pelo alto comando da GCM, Polícia Civil. A Subprefeitura da Sé pediu que emparedássemos essa habitação que é insalubre. Que fique claro também que moradores de rua não estão impedidos de circular por aqui, mas não podem fazer barracas e ocupar as calçadas”, declarou Daffara à nossa reportagem.

O Major não soube dizer para onde as famílias irão. Se existisse algo que pudesse acalentá-las nesse momento, a ausência da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social contribuiu para mais uma ação monstruosa da dupla Doria-Alckmin. Sem acalento, sem direção. Sem solidariedade.

Nesse destino sem endereço, agora, as famílias só sabem sentir e pensar no medo do tal emparedamento.

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