Sem previsão de voo de retorno, brasileiros passam dias e noites no aeroporto de Lisboa

Por Clara Luiza Domingos, de Lisboa, especial para o Jornalistas Livres

Desde que foi decretado estado de emergência em Portugal, no dia 18/03 (segunda-feira), para tentar conter o contágio do coronavírus, o movimento na capital do país, Lisboa, quase sempre intenso, diminuiu drasticamente. As medidas de contingência estão sendo levadas a sério pelos moradores de Portugal, mas os visitantes que chegaram à Portugal antes das medidas de prevenção contra a Covid-19 agora enfrentam problemas para cumprir as regras de saúde pública.

No aeroporto de Lisboa, Lucas Alves Américo, de 23 anos, é um dos brasileiros que teve seu voo de volta para Curitiba cancelado, depois de que as empresas aéreas encerraram suas atividades, obedecendo ao decreto português. Sem dinheiro para bancar a hospedagem até que surja uma solução, a alternativa para Lucas e cerca de outros 35 brasileiros presos no aeroporto de Lisboa foi dormir no chão do saguão e outros, impedidos de entrar, na porta. “Meu voo seria no dia 20/03 (sexta-feira), até que minha companhia, Air Europa, fechou. Na central informam que não conseguem encaixe em outro e não tenho direito ao reembolso (imediato). Nos deram duas opções, ou esperar até que as empresas voltem a trabalhar, ou solicitar um voucher para utilizar daqui um ano”, explica Lucas.

Com a cotação do euro acima de 5,40; a realidade é de que um dia a mais na Europa para quem vem do Brasil e paga suas despesas em reais, é um custo muito alto, que não estava nos planos de muitos que chegaram aqui, com dinheiro calculado para as férias. 

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Em nota, a Embaixada do Brasil em Lisboa respondeu que tem trabalhado, em conjunto com às autoridades portuguesas, para aumentar a frequência de voos excepcionais ao Brasil, ao passo que autoridades em Brasília têm negociado diretamente com as companhias aéreas o aumento das frequências. Informou ainda que todos os brasileiros que se encontram nessa situação devem Todos os brasileiros nessa situação devem, em primeiro lugar, contactar o consulado competente para identificar-se, fornecer detalhes sobre sua situação. Foi também criado número de plantão emergencial em Brasília, por telefone ou WhatsApp (+55 61 98260-0787), que pode ser acionado pelos brasileiros.

Os deputados Beatriz Gomes, Alexandre Vieira e Filipe Soares, parlamentares do Bloco De Esquerda (BE), de Portugal, assinaram uma carta com destino ao Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiro questionando o que tem sido feito para mandar de volta os expatriados de forma segura para suas casas.

Na carta, os parlamentares ratificam que o grupo está completamente exposto ao vírus da pandemia e denomina como inconsequentes as soluções que vêm sendo apresentadas ao grupo até agora. “Muitos destes cidadãos e cidadãs possuem imunodepressões, patologias clínicas ou idades avançadas, pelo que o seu risco de exposição ao vírus é ainda mais elevado. O cenário no exterior do Aeroporto de Lisboa é igualmente representativo do tratamento indigno a que estão a ser sujeitas estas pessoas, sendo muitas aquelas que compõem as filas quilométricas que se vão aglomerando no exterior e sem quaisquer certezas sobre quando e de que forma poderão retornar aos seus países de origem”.

Mas a falta de informação efetiva é o que tem preocupado Mariana Camillo Rocha, uma das brasileiras que também teve seu ticket cancelado nos últimos dias. Ela conta que tentou entrar em contato com a Embaixada, preencheu pelo menos 12 vezes o formulário eletrônico com suas informaçõse detalhadas – primeiro passo após enviar uma mensagem via WhatsAPP. Mas tudo em vão. 

“Os nossos voos estavam marcados para hoje (22/03), mas foram cancelados no dia 17. No mesmo dia do cancelamento já entramos em contato com a companhia e, desde então, estamos tentando voltar. Não deixamos para resolver de última hora. No dia 18/03 foi nosso primeiro contato com a Embaixada, via e-mail, mensagens, tentativa de ligações; mas ontem descobrimos que eles não estão fazendo nada. Não temos para onde ir, a dona do Airbnb que estávamos não quer nos ajudar, nem mesmo cobrando mais barato”, relata.

Segundo Camila, que estava em Portugal a passeio com outros três amigos, o falta de informação no aeroporto é grande e nem todos podem ter acesso à parte interna, para tentar contato com outra companhia, tentar negociar um novo bilhete. “Os seguranças estavam na porta, só pode entrar quem já tem bilhetes confirmados”. 

O Jornalistas Livres em Lisboa também tentou contato com a Embaixada do Brasil por diferentes vias, mas não houve resposta. Segundo a presidenta da Casa do Brasil de Lisboa, Cyntia de Paula, apesar de associação ter um trabalho voltado para os migrantes em Portugal, foram muitos os pedidos de socorro por parte dos turistas que não conseguiram embarcar de volta e não conseguem contato com a representação oficial do Brasil no país luso. “Essa é uma situação emergencial, que também necessita uma resposta de emergência, para que sejam garantidos os direitos básicos das pessoas. Tem gente que está lá e não tem dinheiro para pagar hostel, não tem mais dinheiro para pagar comida”, ressalta Cyntia. 

São poucas as companhias a operar neste momento, a TAP está sendo a principal, com voos diários para São Paulo. Mas mesmo aqueles que tiveram condições financeiras de pagar média de 350€ (quase 2 mil reais), para conseguir um assento de última hora nos próximos dias, ainda não está está completamente seguro se vai conseguir retornar, tendo em vista que as reservas ainda correm o risco de serem canceladas. Aqueles que não contam com recursos para se arriscarem comprando um novo ticket, contam apenas com a incerteza e esperança de que alguma autoridade brasileiras ou o Governo Federal e suas representações no exterior possam ajudá-los.

A falta de suporte fez o grupo de brasileiros se articulam pela plataforma Vakinha para conseguirem arrecadar fundos para pagar as despesas básicas necessárias até que uma solução seja negociada. 

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COMENTÁRIOS

3 respostas

  1. o Bozo os deixa a propria sorte.. e olha que votaram nele eim ..

  2. “DECRETAR” é fácil. Mandar no que é do alheio, também não custa desde que não doa aos mandões … mas, assumir ajudas e responsabilidades, Isso é que é difícil e Obra chata!!! – Mentalidade de “Mandar” de e para funcionários que nada perdem e obedecem bem…

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