*ensaio sobre fotografias de Sato do Brasil.
Porque eles são maus, são sádicos e são covardes. Domingo infiltrando sua madrugada fria entre ratos nos canos podres sob o asfalto, chão sujo da metrópole perversa com a miséria alheia.
Nos chega a notícia às seis da manhã, que centenas de coturnos e seus uniformes de batalhões cercam a região central. A Cracolândia não só será invadida, mas desocupada e demolida. As armas e os homens na ação seriam suficientes para transformar todos em carne moída na cidade pobre, pois são tão fracos os que ameaçam, vulneráveis à toda repressão arrogante que invade.
São cegos os que querem esterilizar as ruas, embaixo do asfalto pretendem esconder as carências e mazelas dos excluídos. É governador, é prefeito, é capitão, é médico, todos se orgulham da mão de ferro do Estado, encaram os mais fracos como se nada acontecesse no poder que nos massacra em suas falcatruas. Removem das ruas o espelho de suas promiscuidades, entendem a saúde pública como um problema de polícia e autoridade.
Como dizem os sujos cartazes, velhos poetas na parede desafiam: redução de danos, o mundo não some quando você fecha os olhos. Atravessar o deserto das razões no céu como se fosse bêbado. O que será que juram os profetas embriagados?