Tivemos algumas novidades no campo da esquerda nessas eleições municipais: as candidaturas coletivas que passaram ao largo das direções partidárias. Foram ao menos 20 candidaturas coletivas registradas nessas eleições municipais. Todas surgidas no campo da esquerda, em especial, petista. Na ausência de direções partidárias firmes e atuantes, os militantes geraram alternativas.
Rudá Ricci, cientista político e presidente do Instituto Cultiva
As candidaturas coletivas deste ano geraram co-vereanças. Isto significou que um nome era registrado, mas, na prática, vários co-candidatos faziam campanha por seu nome (com o número geral registrado) e suas agendas. Em diversas situações, a candidatura coletiva era composta por gente que não tinha a mesma identidade partidária. Isso é uma imensa novidade no país: a organização transpartidária, transtemática, heterodoxa.
Tivemos, como afirmei no início, ao menos 20 dessas co-vereanças ou candidaturas coletivas em 15 de novembro. Vou nomeá-las:
1 – Piracicaba – SP – Mandato Coletivo A Cidade é Sua
2 – São Carlos – SP* – Mandato Popular – Djalma Nery
3 – Ribeirão Preto – SP – Ramon Todas as Vozes
4 – Embu das Artes SP – Rochinha Mandato Coletivo
5 – São Paulo – SP – Coletivo Quilombo Periférico
6 – São Paulo – SP – Bancada Feminista
7 – Ribeirão Pires – SP – Coletivo Feminino
8 – São Caetano – SP – Mulheres por Mais Direitos
9 – Osasco – SP – Ativoz
10 – Ourinhos – SP – Coletivo Enfrente
11 – Alto Paraíso de Goiás – GO*- Mandato Coletivo Permacultural
12 – Florianópolis – SC – Cíntia Coletiva Bem Viver
13 – Itajubá – MG – Coletivo Nossa Voz
14 – Belo Horizonte – MG – Mandato Coletivo – Sônia Lansky
15 – Cataguases – MG – Coletivo Lélias
16 – Fortaleza – CE – Coletivo Nossa Cara
17 – Cratos – CE – Coletivo Sementes
18- Viamão – RS – Mandato Coletivo Teremos Vez
19- São Luis – MA – Mandato Coletivo Nós
20- Salvador – BA – Coletivo Pretas
Houve, ainda, o surgimento de candidaturas a partir de uma organização paralela.Este é o caso do “Representa”, uma articulação de jovens no interior do PT. O Representa priorizou 138 candidaturas, em todos os estados do país e elegeu 25 (18,1%)
Uma corrente interna do PT acusou o golpe com o surgimento do Representa. Artigo assinado por Gilberto Azeredo Gomes ganhou o título “Representa Quem?”. Sugerindo se tratar de um coletivo que procura lançar novas “Tábatas”, sustenta: “Sob o argumento de “qualificar” a política, todos eles compartilham de alguns pressupostos, em maioria de cunho liberal: a aversão aos partidos políticos, a infidelidade programática (…)”.
Gostaria de chamar a atenção para duas situações que essas novidades carregam. A primeira, de cunho sociológico. Elas procuram traduzir a imensa fragmentação social que estamos vivendo neste século XXI. De alguma maneira, expressam a forma das “redes sociais”. São ramificações que formam um mosaico. Algo como “construindo a unidade na diversidade”. Evidente que este tipo de organização plural e em mosaico se contrapõe à estrutura verticalizada e monolítica da forma-partido. Podem estar inaugurando uma nova forma.
Mas, também é um sintoma: as direções partidárias deste campo político perdem controle sobre a ação na base. As lideranças se multiplicam e, sem guarida, estruturam caminhos próprios, paralelos aos da trajetória partidária, sem rupturas formais.
O importante é percebermos uma mudança significativa que pode apontar novas configurações políticas ou de organização política neste complicado século XXI.
Obs. As três candidatas que aparecem na primeira foto, Laina Crisóstomo, Cleide Coutinho e Gleide Davis, integram o grupo Pretas por Salvador, eleito pelo Psol – Foto Divulgação