Sem dimensão social, a Igreja trai sua missão

Papa Francisco - Redes sociais

Por frei Gilvander Moreira¹

Na mensagem ao povo de Deus, no final da XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, concluiu-se que: A Voz da Palavra é a Revelação; O Rosto da Palavra é Jesus Cristo; A Casa da Palavra é a Igreja; e por último a Estrada da Palavra é a missão. A Igreja em saída como quer o atual Papa Francisco.

No início da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho), de 2013, o Papa Francisco indica o objetivo do documento: “quero com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de convidá-los para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos”. 

Em cinco capítulos o documento Alegria do Evangelho apresenta: 1º. A transformação missionária da Igreja; 2º. A crise do compromisso comunitário; 3º. O anúncio do Evangelho; 4º. A dimensão social da Evangelização; 5º. Evangelizadores com espírito. O Papa termina o documento dedicando os últimos números a Maria, a Mãe da Evangelização. Ele não hesita em afirmar que: “É importante que o povo de Deus seja educado e formado claramente para se abeirar das Sagradas Escrituras na sua relação com a Tradição viva da Igreja, reconhecendo nelas a própria Palavra de Deus”.

Prestemos atenção a algumas afirmações do papa Francisco na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho: “Se a dimensão social da evangelização não for devidamente explicitada, corre-se o risco de desfigurar o sentido autêntico e integral da missão evangelizadora” (n. 176). “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos” (n. 49).

Além de ser pobre e para os pobres, a Igreja desejada por Francisco é corajosa em denunciar o atual sistema econômico, “injusto na sua raiz” (n. 59). Como disse João Paulo II, a Igreja “não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça” (n. 183).

  O papa Francisco critica o atual sistema econômico: “esta economia que mata” porque prevalece a “lei do mais forte“. Ele volta à cultura do “descartável” que criou “algo novo” e dramático: “Os excluídos não são ‘explorados’, mas resíduos, ‘sobras’” (n. 53). Enquanto não se resolverem radicalmente os problemas dos pobres, renunciando “à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social – insiste –, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum”. E o papa Francisco aponta que na “desigualdade social” estão as raízes dos males sociais. 

O papa Francisco profetiza que a Igreja não pode ficar indiferente às injustiças sociais. A economia não pode mais recorrer a remédios que são um novo veneno, como quando se pretende aumentar a rentabilidade reduzindo o mercado de trabalho e criando assim novos excluídos. O papa Francisco dedica páginas à denúncia da “nova tirania invisível, às vezes virtual”, em que vivemos um “mercado divinizado”, onde reina a “especulação financeira”, “corrupção ramificada”, “evasão fiscal egoísta” (n. 56).

São pressupostos para o estudo da Bíblia a revelação, a inspiração divina e o magistério da Igreja. A revelação divina ultrapassa o texto Bíblico, se manifesta no universo e na história da caminhada dos povos de Deus, cuja experiência humana está descrita no Primeiro e depois no Segundo Testamentos bíblicos. A Igreja guardiã dessa tradição reconhece a sacralidade das Sagradas Escrituras, onde Deus se revela na história de forma intensa, por meio de palavras, gestos e ações na caminhada de libertação dos povos da Bíblia, servindo-se da mediação de homens e mulheres para comunicarem a mensagem de libertação/salvação, que chegou ao seu auge com a encarnação de Jesus no seio de Maria, ele nos revelou o Pai, e o Espírito Santo, na realização do seu Projeto: “Eu vim para que tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10). 

Os textos bíblicos são inspirados por Deus, que respeitou as condições humanas e as formas literárias do seu tempo, para nos comunicar a mensagem de libertação/salvação. Deus confiou a missão de levar adiante esta mensagem à sua Igreja, que é, acima de tudo, povo de Deus. Ainda que o povo de Deus tivesse consciência da sua missão, ela viveu ao longo da história, altos e baixos, crises como a que viveu no tempo da Reforma Protestante (ano de 1517), onde a Bíblia ficou em segundo plano. Ela retomou com vigor a centralidade da Palavra na sua Evangelização, desde o Concílio Vaticano II, e escancarou as portas para que a Palavra dinamizasse toda a vida eclesial. Desde o Concílio Vaticano II, nasceram diversos documentos sobre os textos bíblicos e são de suma importância para dinamizar ainda mais a vida da Igreja. 

O documento A Interpretação da Bíblia na Igreja, de 1993, traz uma afirmação comprometedora: “O modo de interpretar os textos bíblicos para os homens e as mulheres de hoje têm consequências diretas sobre a relação pessoal e comunitária dos mesmos com Deus, e está também estreitamente ligado à missão da Igreja. Trata-se de um problema vital, que merece toda a nossa atenção

Faz-se necessário uma preparação adequada das lideranças leigas para trabalharem com os textos bíblicos, colaborando efetivamente na formação do povo de Deus, cuja responsabilidade é muito grande, pois, como afirma o documento, o trabalho pode interferir ‘na relação pessoal e comunitária das pessoas com Deus’, e esta implica na prática pessoal e comunitária em prol do Reino de Deus. Daí a importância de conhecer também as Formas e os Gêneros Literários para respeitar e ao mesmo tempo, colher melhor a mensagem dos textos bíblicos que foram revelados por Deus, acolhido e transmitido por homens e mulheres, inspirados pelo Espírito Santo. 

Enfim, a Igreja através dos seus integrantes deve lutar pela Justiça Social e pela superação das injustiças agrária, urbana e ambiental. Sem dimensão social, a Igreja trai sua missão. Por isso, coerente com o Evangelho de Jesus Cristo, o papa Francisco quer Igreja pobre para os pobres. Igreja que pratica o fundamentalismo, o moralismo, o ritualismo e se restringe ao consolo e na prática prioriza arrecadar dízimo é igreja traidora do Evangelho de Jesus Cristo.

Referências

Papa FRANCISCO, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. São Paulo: Paulinas, 2013

PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. A Interpretação da Bíblia na Igreja. Paulinas: São Paulo, 1994

08/12/23

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 – Bíblia: privatizada ou lida de forma crítica libertadora? Por frei Gilvander, no Palavra Ética 

2 – Deram-nos a Bíblia. “Fechem os olhos!” Roubaram nossa terra. Xukuru-Kariri, Brumadinho/MG. Vídeo 5

3 – Agir ético na Carta aos Efésios: Mês da Bíblia de 2023. Por frei Gilvander (Cinco vídeos reunidos)

4 – Andar no amor na Casa Comum: Carta aos Efésios segundo a biblista Elsa Tamez e CEBI-MG – Set/2022

5 – Toda a Criação respira Deus: Carta aos Efésios segundo o biblista NÉSTOR MIGUEZ e CEBI-MG, set 2022

6 – Chaves de leitura da Carta aos Efésios, segundo o biblista PEDRO LIMA VASCONCELOS e CEBI/MG –Set./22

7 – Estudo: Carta aos Efésios. Professor Francisco Orofino

8 – Carta aos Efésios: Agir ético faz a diferença! – Por frei Gilvander – Mês da Bíblia/2023 -02/07/2023

9 – Bíblia, Ética e Cidadania, com Frei Gilvander para CEBI Sudeste

10 – Contexto para o estudo do Livro de Josué – Mês da Bíblia 2022 – Por frei Gilvander – 30/8/2022

11 – CEBI: 43 anos de história! Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos lendo Bíblia com Opção pelos Pobres

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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