Saudades do José, por Dirce Waltrick do Amarante

A aranha que chora, 1881, Odilon Redon

Por Dirce Waltrick do Amarante*

E agora, você?
o golpe acabou,
a luz apagou,
o dólar subiu,
o PIB caiu,
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
que faz mil postagens
de ódio ao PT
e agora, você?

Está sem emprego,
está sem dinheiro,
está sem futuro,
já não pode fumar,
já não pode estudar,
transar já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o trabalho não veio,
não veio a utopia
nem a carteira assinada
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, você?

E agora, você?
Suas duras palavras
anticorrupção,
sua vida bandida,
sua família banida,
sua carteira vazia,
seu carro roubado,
sua incoerência,
seu ódio às ONGs — e agora?

Com o título na mão
quer mudar a eleição,
não existe eleição;
quer se lançar ao mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
com a qual a Samarco acabou.
Ei, você, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se protestasse,
se se rebelasse,
mas você dormiu,
você cansou,
você morreu…
Mas você não morre,
você é duro, ah, você é!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem nenhuma opção,
sem nenhuma ética,
sem convicção,
sem vergonha e sem bom senso,
segue a galope,
você marcha, sim, você!
Ei, você, para onde?

“Teu c*”, é o que você me responde.

Saudades mesmo eu tenho do José.

 

*Esperando José.

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