São Paulo pode perder mais uma represa daqui poucos anos

Por Marina Moura, para os Jornalistas Livres 

A represa de Salto Grande, em Americana, já “virou sopa de ervilha, de tão verde que está”. A comparação foi feita pelo professor André Cordeiro, da UFSCar, que abriu as apresentações da audiência pública “Represa de Itupararanga: Um Patrimônio Ameaçado”, que ocorreu nesta terça-feira (21/11) na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), organizada pela Comissão de Meio Ambiente.

O grande receio, alerta o professor, que também representa o Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Sorocaba e Médio Tietê, é que Itupararanga caminhe para as condições que acabaram com a qualidade das águas das represas Guarapiranga, Billings e Salto Grande. Destas, só Guarapiranga fornece água, para abastecimento da zona sul, mas de qualidade questionável.

Pelas estimativas do professor, as cianobactérias tóxicas, já presentes na água hoje, podem fazer com que em 2022 ou 2023 a represa se torne supertrófica e em 2028 se torne hipertrófica.
O que significa que a água poderá ter cheiro, gosto e ser tóxica, tornando o processo de tratamento cada vez mais oneroso, até que não haja mais condições de recuperação e a água fique imprópria para consumo humano.

Além do abastecimento, há outros agravantes, como o despejo de resíduos pelos condomínios próximos – inseridos em Áreas de Proteção Ambiental (APAs), que abrangem os municípios de Alumínio, Cotia, Ibiúna, Mairinque, Piedade, São Roque, Vargem Grande Paulista e Votorantim.

Ainda que alguns condomínios coletem e tratem seu esgoto de forma autônoma, como no caso do condomínio Porto Veleiros, de Ibiúna, que fica “dentro” da área da represa, o professor afirma que há poluição difusa que alcança, sim, as águas.

Para que tal contaminação não ocorresse, seria necessário que os empreendimentos respeitassem uma borda mais ampla separando os lotes da represa.

 

Ocupação humana versus conservação de Itupararanga

Hoje, 7% da área da represa tem ocupação humana, um adensamento que já preocupa ambientalistas e conhecedores do caso de Itupararanga.

O dado foi levado à audiência por Dante Ragazzi Pauli, do setor de Planejamento Integrado da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Pelo que foi registrado no encontro, sobretudo nas falas do professor e dos membros da Sabesp, o poder público não consegue fiscalizar a ocupação dessas áreas, dificultando o controle de contaminação e de captação indevida de águas da represa, assim como a chegada dos serviços de saneamento básico do entorno.

Ativistas apontam que hidrelétrica da Votorantim prejudica ecossistema

Estima-se que as águas da represa Itupararanga estejam hoje 1,80 metro abaixo da média anual. Segundo membros de comitês presentes na audiência, um dos motivos é a retirada de água pela hidrelétrica administrada pelo grupo Votorantim, o que tem causado morte e extinção de algumas espécies de peixes.

A “Votorotim Energia”, como se apresenta o serviço, capta água para manutenção de indústrias do grupo e também para venda de energia elétrica para cidades do entorno.

Em momentos de estiagem, que podem gerar crise hídrica, a empresa retira o mínimo de água possível, no “limite operacional de 817,50”, como apontou Jorge Lopes, gerente de operações da Votorantim Energia, sem deixar claro o volume de água que isso representa.

Apesar da taxa ser permitida por lei, membros de comitês do meio ambiente apontam os danos que são gerados, afirmando que a faixa operacional não é mais adequada para manutenção do rio. E defendem a modificação desse limite.

Ao término da audiência pública, a Sabesp se comprometeu a acompanhar de perto a situação da represa Itupararanga. O presidente da comissão de meio ambiente da Alesp, deputado estadual Roberto Tripoli, sugeriu que outras audiências públicas fossem agendadas para continuação do debate.

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