Insatisfeitas com a série de incoerências e falta de transparência durante o Prêmio Carolina Maria de Jesus, o grupo Nós Carolinas do Brasil pede a revogação do edital que premiou 61 escritoras do Brasil inteiro. Segundo o coletivo, a iniciativa do Ministério da Cultura cometeu falhas gravíssimas ao usar metodologias de avaliação excludentes e promotoras de racismo estrutural e linguístico, além de apresentar ações que devem ser alvo de investigação, como a criação de uma vaga extra, a mudança na autodeclaração étnico-racial de uma candidata e o aumento inexplicável da média de outra candidata, mesmo sem recurso.
O grupo ressalta que a criação do prêmio foi extremamente pertinente e desejável, tendo sido comemorada por todo o país, mas o processo de seleção deixou muito a desejar, causando questionamentos e revolta entre participantes, sobretudo negras.
“Em nossa carta apresentamos todos os pontos que fazem nosso pedido de revogação legítimo. Infelizmente, recebemos apenas uma nota insatisfatória como resposta. Mas não desistiremos até que uma averiguação séria seja feita”, explica Laila Garroni, uma das integrantes do grupo. O coletivo diz que o edital contraria o legado deixado por Carolina Maria de Jesus, quando estabelece como critério de maior peso, em caso de empate, o “domínio técnico e inventividade no uso dos recursos linguísticos”.
“A postura adotada torna o edital, uma vez aparentemente ‘inclusivo’, metodologicamente fundamentado na exclusão. Uma prova concreta disso é que absolutamente nenhuma escritora quilombola ou indígena atingiu a nota máxima neste edital”, continua o documento encaminhado à comissão da premiação. “Se Carolina estivesse concorrendo, com sua forma linda e autêntica de escrever e que a fez ser a escritora que era, jamais estaria sequer habilitada para o concurso que leva o seu nome”, supõe Viviane Gonçalves, outra participante do coletivo.
Além do baixo número de escritoras autodeclaradas negras selecionadas pela premiação, apenas 12 das 61 ganhadoras, o grupo vê com muita preocupação o caso específico da escritora que entre a fase de habilitação e resultado final, deixou de se declarar negra e acabou sendo premiada com uma vaga extra, não prevista até então, na categoria “não se aplica”. O coletivo acredita ter evidências suficientes para pedir a revisão do prêmio e pretende tomar medidas judiciais na volta do recesso de fim de ano. Por enquanto, as escritoras trabalham colhendo assinaturas e expondo suas denúncias em sua página do Instagram.
Uma resposta
Verdade e concordo com a revogação. Não houve sensibilidade. Uma elite que poda e veta o direito de voz e de visibilidade dos trabalhos dedicados a ancestralidade de nossos troncos deve ser questionada.