Questão de sobrevivência: conheça as candidaturas indígenas nessas eleições

Os Jornalistas Livres deram início nesta terça (23) a uma série de reportagens sobre aquelas e aqueles que lutam por representação política
Luta indígena em destaque
Luta indígena em destaque

A Bancada do Cocar é existencialista. Em 4 anos de governo Bolsonaro, os povos indígenas foram vítimas de políticas genocidas e de constantes ataques à sua cultura e dignidade. São múltiplas as ações tomadas pelo presidente que não só facilitaram o avanço do garimpo ilegal e da agropecuária em terras indígenas, mas foram responsáveis pela morte de muitos. A exemplo disso, podemos citar a retirada da competência da Fundação Nacional do índio (FUNAI) de demarcar terras indígenas, dando esse poder ao Ministério da Agricultura, que sempre foi  predominantemente influenciado por interesses de ruralistas. O governo Bolsonaro também colaborou para o aumento da violência e de assassinatos de indígenas com medidas que facilitaram a entrada de garimpeiros em território indígena. 

Por Camilla Almeida

Durante a pandemia, os povos originários foram totalmente negligenciados pelo Ministério da Saúde e pelo governo federal como um todo. No início do período pandêmico, a FUNAI cortou o envio de cestas básicas e ações assistenciais às comunidades indígenas – colaborando para o aumento da vulnerabilidade social desses povos. A cloroquina, remédio totalmente ineficaz contra a Covid-19 e defendido com unhas e dentes pelo presidente, foi enviada em enormes quantidades a várias aldeias indígenas no Brasil. Até o momento, houve 1317 mortes indígenas por Covid-19. 

Dentro dessa conjuntura de mortes, violências institucionais e ataques à dignidade, a necessidade de uma bancada indígena nunca ficou tão evidente. É preciso eleger candidaturas indígenas que lutem por pautas ambientalistas e que defendam políticas públicas de afirmação dessa parcela populacional. Atualmente, apenas uma cadeira na câmara federal é ocupada por uma indígena, Joênia Wapichana (Rede/RR). Com 176 candidaturas neste ano, esse cenário precisa mudar. Os Jornalistas Livres te convidam a conhecer os candidatos e candidatas para cargos legislativos e estaduais para o Congresso. 

NORTE 

  • Vanda Witoto 1818 (REDE-AM)

Filha de Edson Witoto e Leia Kokama, nasceu em 1987, na Aldeia Colônia, no Alto Rio Solimões, município de Amaturá, a 909 quilômetros de Manaus. Vanda está concluindo o curso de pedagogia pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), além de ser técnica de enfermagem formada, área na qual atua, sendo funcionária da Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta (FUAM), ligada a atual Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM, ex-SUSAM). É coordenadora do Movimento dos Estudantes Indígenas do Estado do Amazonas (MEIAN) e foi a primeira pessoa a ser vacinada no Amazonas, como profissional de saúde e mulher indígena.

Ela frisa que além das pautas indígenas, quer ocupar esse espaço para atuar em defesa da Amazônia e do meio ambiente, ações importantes para indígenas e não indígenas. “Nossa luta é para o bem comum da sociedade”, afirma. 

  • Bartô Macuxi 500 (PSOL-RR)

Bartolomeu da Silva Tomaz, popularmente conhecido como Bartô Macuxi, tem 53 anos, mora em Boa Vista, tem dois filhos. Seu pai era Wapichana e sua mãe, Macuxi. É Ativista e luta em defesa do seu Povo desde de 1984. Participou de muitos Movimentos em defesa das Demarcações das terras indígenas. Em 2020, ocupou uma vaga no Gabinete da Deputada Federal Joênia Wapichana, como Assessor Parlamentar. Tem como parceiros as Organizações: CIR, OPIR, ODIC, kAPOI, APTCM, ADIR, KUAKRI, ALIDICR entre outros. É membro do Movimento PURAKÉ, que faz campanha contra a Hidrelétrica do Bem Querer. Em 1988, ajudou a escrever propostas para a elaboração da CARTA MAGNA por uma comissão da Igreja Católica. É candidato a Senador por entender que não podemos mais aceitar tamanha destruição e desmatamento na Amazônia.

  • Junior Manchineri 13456 (PT-AC)

Junior Manchineri tem 21 anos e é indígena do povo Manchineri. É acadêmico do curso de Ciências Sociais da Universidade  Federal  do Acre – UFAC. Compõe o  Programa de Educação Tutorial – PET indígena da UFAC, onde foi co-autor do livro “As trajetórias de estudantes universitários indígenas na UFAC”. Liderança indígena jovem da Amazônia. Articulador e conselheiro fiscal da MATPHA, organização indígena Manchineri. Mobilizador de base da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB. Um dos coordenadores do núcleo da Organização não governamental.

  • Maial Kaiapó 1818 (REDE-PA)

Indígena, bacharel em Direito, antirracista, defensora dos direitos humanos e ambientais, Maial Kaiapó concorre a deputada federal pelo Pará. É filha de Paulinho Paiakan, um dos principais articuladores e intermediadores entre as políticas públicas e os povos indígenas e participou da inclusão de seus direitos na Constituição Federal. Em 2016, assessorou a presidência da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) em análises e acompanhamentos de processos de demarcação e proteção das terras indígenas.

CENTRO-OESTE

  • Coletiva Mulheres Indígenas 50333 (PSOL-DF) 

Composta por Airy Gavião, Muriã Pataxó e Shirlene Tukano, a Coletiva Mulheres Indígenas é o primeiro mandato coletivo indígena da história do DF. Airy é do povo Gavião, do estado do Pará. Avó de dois netinhos, trabalha como artesã. Muriã é do povo Pataxó, da Bahia e também trabalha como artesã. Shirlene é do povo Tukano, do estado do Amazonas e aos 24 anos é estudante e também trabalha como artesã. Por serem de três três gerações diferentes, elas mostram como a resistência e a luta fazem parte da trajetória dos povos indígenas. Suas pautas defendem a preservação do cerrado, a cultura, saúde e educação pública, direito à cidade.

  • Eliane Xunakalo 13456 (PT-MS)

Nascida na Terra Indígena Santana, do povo Kurâ-Bakairi, localizada no município de Nobres, ela foi a primeira mulher indígena de seu povo a se formar e ser bacharel em Direito, a fazer Pós-Graduação em Administração Pública e hoje é casada e mãe de 3 filhos, todos bilingues desde o nascimento. Há mais de 10 anos, luta pela representatividade na política, na sociedade, na academia e na cultura, sendo membro da Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil (ACILBRAS) e tendo recebido diversas homenagens públicas inclusive pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso, onde ela agora pretende entrar como deputada estadual na próxima legislatura. 

  • Val Eloy 50123 (PSOL-MS)

Val é uma mulher terena, que nasceu na aldeia Ipegue, localizada no território indígena Taunay-Ipegue, no município de Aquidauana. No ano de 2020 concorreu nas eleições municipais da Capital como vice-prefeita e agora concorre a uma das 24 vagas da ALMS (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul). Apesar de Mato Grosso do Sul ter uma população estimada de 100 mil indígenas, até hoje nenhuma cadeira da ALMS foi ocupada por uma pessoa desta parcela da população. A candidata se diz honrada em participar deste projeto, ainda mais por ser mulher e indígena. 

“Saí como deputada por todos os direitos que nós, povos indígenas, estamos perdendo. ‘Aldear a Política’ dá visibilidade para os indígenas, temos várias candidaturas pelo país e temos que ocupar este espaço no momento, pois somente nós indígenas sabemos de nossas dores e temos que nos conscientizar em relação a isso”, ressalta.

NORDESTE

  • Cacique Aruã 65444 (PT-BA)

Presidente Licenciado da Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo Sul da Bahia – FINPAT; exerceu por 17 anos a função de Cacique da Aldeia Indígena Pataxó Coroa Vermelha em Santa Cruz Cabrália/BA. Foi vereador por Santa Cruz Cabrália/BA de 2013 a 2016; Presidente do PCdoB de Cabrália, dirigente estadual e nacional. É graduado em Administração; Pós – Graduado em Gestão Pública; Direitos Humanos e Meio Ambiente.

  • Paulo Anace 5020 (PSOL-CE)

Natural de Fortaleza, tem 49 anos e há 30 atua na luta das causas sociais e dos povos indígenas. É uma liderança indígena do povo anacé e ganhou destaque por lutar diariamente contra a retirada de água do Lagamar Cauípe, para uso predatório do Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Foi o primeiro candidato indígena e LGBTQIA+ cearense ao senado federal e agora é candidato a deputado federal pelo PSOL. 

  • Cacika Irê 6524 (PCdoB-CE)

É uma liderança indígena que, desde sua infância, luta ao lado de sua mãe Cacique Pequena pela garantia do direito à vida, educação, saúde e terra para os povos indígenas. Cacika Irê é uma das fundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade e atualmente é vice-coordenadora da Articulação das mulheres indígenas do Ceará (AMICE). É mestranda em Antropologia pela Universidade Federal do Ceará. 

SUDESTE

  • Daniel Munduruku 1219 (PDT-SP)

Daniel Munduruku é um brasileiro, nascido em Munduruku. É escritor, filósofo e professor. Doutor em Educação pela USP (Universidade de São Paulo) e PhD em Linguística pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). Daniel Munduruku carrega uma larga experiência adquirida em uma vida de lutas intensas, de busca pelo conhecimento, e uma riquíssima bagagem cultural indígena e brasileira. Agora se apresenta para a sociedade brasileira como candidato a Deputado Federal por São Paulo, para lutar por todos e todas aqueles que almejam um país que pode ser muito mais justo do que foi e do que é.

  • Sônia Guajajara  5088 (PSOL-SP) 

Sônia Guajajara é do povo Guajajara/Tentehar, originário das matas da Terra Indígena Araribóia, no estado do Maranhão, Brasil. É formada em Letras e Enfermagem, e fez pós-graduação em Educação Especial. Seu ativismo indígena e ambiental começou ainda na juventude, nos movimentos de base. Logo ganhou projeção nacional tornando-se vice-presidente da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), e depois coordenadora executiva da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) pela Amazônia.

Desde então, Sônia Guajajara é uma das principais lideranças na linha de frente contra uma série de projetos que atacam direitos e ameaçam a vida dos povos indígenas e o meio ambiente. Em poucos anos, ela ganhou projeção internacional em virtude de dezenas de denúncias sobre violações de direitos indígenas realizadas em diferentes instâncias da ONU, do Parlamento Europeu e nas Conferências Mundiais do Clima (COP), de 2009 a 2021, viajando mais de 30 países do mundo. Foi eleita uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela Revista Time.

  • Célia Xakriabá 5088 (PSOL-MG) 

É mestra em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília e doutoranda em antropologia pela UFMG. Faz parte da Articulação Rosalino Gomes, presente no Norte de Minas, e é uma das fundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade. Na Secretaria de Educação de Minas Gerais, colaborou com a abertura de escolas indígenas e quilombolas e a reabertura de escolas do campo em todo o estado. Atuou ao lado de Áurea Carolina como assessora parlamentar na Câmara dos Deputados.

SUL

  • Kerexu 5001(PSOL-SC) 

Mulher indígena, mãe, educadora e gestora ambiental, Kerexu é liderança guarani de Santa Catarina que atua em defesa dos Povos Indígenas e do Meio Ambiente. Coordenadora executiva da maior organização Indígena do Brasil, a APIB, e cofundadora da ANMIGA, que reúne Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade. Kerexu é referência internacional na luta pela preservação e reflorestamento da Mata Atlântica. Nas eleições de 2022, como parte da campanha nacional para ‘Aldear a Política’, que visa eleger uma Bancada Indígena no Congresso Nacional, Kerexu vai fortalecer a luta pela Vida, Direitos dos Povos Indígenas, Educação, Meio Ambiente e Justiça Social no Brasil como representante de Santa Catarina.

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