Quem é Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos

Os Jornalistas Livres foram atrás e descobriram que o empresário Francisco Maximiano, o Max, viajou para a Índia já sabendo que ia ser convocado para depor na CPI do Covid, em audiência marcada para o dia 4 de agosto. E deu o bolo nos senadores

Pela terceira vez o empresário Francisco Maximiano conseguiu se livrar da CPI do Covid. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) declarou na ocasião que estava “muito insatisfeito com esse adiamento do depoimento do Sr. Francisco Maximiano”. Afinal, suas empresas Global Saúde e Precisa Medicamentos estão envolvidas na venda da vacina Covaxin para o Ministério da Saúde, que acabou frustrada.

O Jornalistas Livres foi atrás e descobriu que Francisco Maximiano, o Max, viajou para a Índia já sabendo que ia ser convocado, tudo para não precisar depor na CPI do Covid, marcada para o dia 4 de agosto. Mas hoje, 19, ele se apresentou à CPI, exercendo seu direito de ficar calado quando quiser.

QUEM É FRANCISCO MAXIMIANO?

Extremamente educado e simpático, Francisco Maximiano é conhecido por seus exageros em lojas, carros, barcos e restaurantes, e por ser muito discreto em relação a fotos e aparições públicas. Nunca teve nenhuma rede social, nenhum de seus familiares tem fotos juntos ao empresário e as redes de todos os filhos são fechadas.

Maximiano é categorico: não quer aparecer.

Dono de diversas empresas nas áreas de saúde e fundos de investimento, todas têm algo em comum: a facilidade de fechar contratos e a dificuldade de entregar os serviços prometidos.

Francisco Maximiano, em suas diversas empresas, sempre teve seus contratos judicializados ou com problemas.

Quando assinou contrato com os Correios, teve problema e nunca tinha feito um contrato com aquele modelo de negócio e modelo de produto. Quando fez contrato com a Petrobrás, teve problema e nunca tinha feito um contrato com aquele modelo de negócio e modelo de produto. Quando fez contrato com o Ministério da Saúde em relação aos remédios de alta complexidade, teve problema, também sem nunca ter feito um contrato com aquele modelo de negócio e modelo de produto. Agora, novamente, em contrato com o Ministério da Saúde e a vacina Covaxin, teve problema de novo, em um contrato até então inédito para a empresa.

Prefeito de Águas Lindas de Goiás, Hildo do Candango, Francisco Emerson Maximiano, o presidente da Vivo, Christian Gebara, e o então porta-voz da Xis, Marco Carbonari, no lançamento da fibra ótica no município goiano – FOTO: DIVULGAÇÃO/TERRA FIBRA
Prefeito de Águas Lindas de Goiás, Hildo do Candango, Francisco Emerson Maximiano, o presidente da Vivo, Christian Gebara, e o então porta-voz da Xis, Marco Carbonari, no lançamento da fibra ótica no município goiano – FOTO: DIVULGAÇÃO/TERRA FIBRA

Todos os contratos tinham algo em comum: sempre são contratos de modelos de produto que as empresas de Francisco Maximiano estão desbravando. Nunca são serviços ou produtos que a empresa já presta e tem experiência.

A especialidade de Francisco Maximiano é fechar contrato, e não prestar serviço. Sua especialidade é tratar bem os parceiros de negócio, convidar para sua casa de veraneio, para passeios em seu barco em Angra dos Reis, pagar restaurantes luxuosos, levar para viajar.

Em 2015, na CPI dos Fundos de Pensão, o ex-diretor da Postalis Adilson Florêncio da Costa, preso por suspeita de envolvimento no desvio de R$ 90 milhões, admite que viajou com Francisco Maximiano para Cuba, em uma viagem turística.

“Atualmente, tenho uma relação mais estreita com ele.[Francisco Maximiano] Esteve comigo. Foram várias viagens que fiz a Cuba.”

Esse depoimento está disponível no site da Câmara dos Deputado (https://www.camara.leg.br/…) e o fundo de pensão dos Correios, a Postalis, é mais um dos contratos que deram problema e que tinha como parte uma das empresas de Francisco Maximiano.

Mais à frente, em outro contrato com as empresas de Max, a Petrobrás foi alvo de denúncias e matéria na televisão. No programa Fantástico de 25 de junho de 2016, uma reportagem denuncia uma fraude na Petrobrás, justamente no contrato com a empresa Global Saúde.

VEJA: REPORTAGEM ESPECIAL DO FANTÁSTICO DENUNCIA MAIS UMA FRAUDE NA PETROBRÁS

A matéria dizia que uma empresa contratada pela Petrobras tinha um esquema de remédios e receitas em um contrato milionário que fraudava um benefício da estatal.

Anos depois, a mesma empresa, Global Saúde, se envolveu em mais uma denúncia, dessa vez em um contrato com o Ministério da Saúde. A pasta exige a devolução de cerca de R$ 20 milhões, pagos antecipadamente, pois a empresa não entregou os medicamentos em contrato.

Fontes informaram que o contrato para fornecimento de medicamentos de alta complexidade foi vencido pela Global Saúde por alguns reais de diferença. O esquema envolvia funcionários do Ministério da Saúde do governo Temer para conseguir fazer que a empresa de Francisco Maximiano vencesse a concorrência para obter o contrato.

O CASO COVAXIN

Na CPI Da Covid, a empresa de Francisco Maximiano está envolvida em uma denúncia de superfaturamento na venda de vacinas para o Ministério da Saúde. A vacina indiana Covaxin, fabricada pelo laboratório Bharat Biotech, teria como intermediadora a empresa Precisa Medicamentos. Cada vacina estava sendo negociada a 1.000% a mais que o valor inicial. Por conta do formato do contrato, negociado pela Precisa Medicamentos, a Covaxin se tornou a vacina mais cara negociada com o Ministério da Saúde.

A vacina Covaxin foi negociada a US$ 15 por dose, enquanto a vacina Pfizer, a mais cara até então, foi negociada a US$ 10 por dose. A vacina Astrazeneca foi negociada entre US$ 3,16 e US$ 5,25 por dose e a vacina Coronavac pelo valor de R$ 56 por dose. O contrato, de mais de R$ 1,6 bilhão, teria, segundo o UOL, um repasse de R$ 500 milhões, cerca de 1/3 do contrato, para a Precisa Medicamentos, responsável por todo o tramite institucional.

Acontece que a Precisa Medicamentos nunca tinha negociado vacinas com o governo e nem o governo tinha negociado vacinas sem ser com os próprios laboratórios. É um contrato inédito, assim como a maioria dos contratos das empresas de Francisco Maximiano.

Neste meio tempo, o deputado Luiz Miranda viu indícios de irregularidade e informou o presidente Jair Bolsonaro a respeito. Falou sobre a pressão sobre seu irmão, o servidor Ricardo Miranda, responsável pela área de importações do Ministério da Saúde.

A discussão tomou uma proporção ainda maior porque o “invoice”, ou seja, algo como um modelo de contrato internacional, apresentava diversas irregularidades. A Precisa Medicamentos, através de uma de suas funcionárias, Emanuelle Medrades, contestou a informação, dizendo que o invoice só tinha sido enviado após os irmãos Miranda terem se reunido com Jair Bolsonaro. Seria, segundo a Precisa Medicamentos e Francisco Maximiano, impossível Luiz e Ricardo Miranda apresentarem irregularidades sobre uma invoice (ou seja, uma espécie de contrato internacional) que ainda não tinha sido enviado pela Precisa Medicamentos ao Ministério da Saúde.

O problema é que esse documento foi enviado dentro de uma pasta do Dropbox em um e-mail. E o Dropbox não guarda histórico de movimentações de arquivos. Ou seja, a CPI e os irmãos Miranda não têm como provar que esse documento foi enviado antes. Não há um registro dentro do Dropbox, aparentemente mesmo se a empresa for obrigada a apresentar por determinação judicial. Isso, simplesmente, não existe.

FECHAMENTO DE CONTRATOS

Mas como consegue fechar tantos contratos, em valores tão expressivos, se suas empresas não são líderes de mercado e não têm experiência em diversos serviços, como vacina ou medicamentos de alta complexidade?

Maximiano é um especialista em fechar contratos. O jeito calmo de falar, o tratamento de forma educada, os presentes que dá para os contratantes, as viagens e os restaurantes aumentam a possibilidade de os contratos serem concretizados, independentemente de as empresas de Max estarem capacitadas ou não de prestarem o serviço.

Afinal, a especialidade de Francisco Maximiano não é prestar serviços, é fechar contratos.

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