Pico.
O projeto Pico começou em 2019, após de uma série de reportagens de sites do cotidiano de celebridades, noticiarem que personalidades como a apresentadora Xuxa Meneghel e o jornalista William Bonner usaram o metrô e adoraram a experiência. O fato que deve ser dito é que Xuxa teve um metrô fechado, para que ela gravasse a abertura do seu programa e o jornalista usou o metrô de Nova York.
Duas realidades bem distintas da realidade dos moradores de periferia de São Paulo ou de qualquer outra parte do Brasil. Onde os vagões são lotados, demoram para chegar em suas plataformas, causando stress e ansiedade para quem depende dos coletivos para chegar ao trabalho.
Um ano após o início do projeto surge um outro pico, o do coronavírus, pandemia global que veio com estatísticas tristes de mortos. Hoje, ao fazer este texto, contabilizou-se mais de 160 mil mortes. Foram mais de 5 milhões de infectados em todo o Brasil.
Enquanto se pedia isolamento social, esse pedido foi refutado veementemente por quem apoia a economia e não a vida. Os trabalhadores residentes de regiões periféricas não pararam de trabalhar. Fato esse, que fez pesquisas mostrarem que as regiões periféricas eram onde existiam mais contaminados pelo vírus. A região do Grajaú, extremo sul de São Paulo, inclui-se nestas estatísticas dos lugares onde se tem mais contaminados.
Além de lidar com excesso de pessoas que, mesmo com a redução de usuários em coletivos como ônibus, trens e metrôs, continuvam a usar os transportes públicos, o cidadão periférico paulistano precisou colocar a cara e a coragem para enfrentar dois vírus em 2020, o do Covid-19 e o descaso público do Estado para com os seus cidadãos.
Enquanto a vacina não chega, aumenta mais ainda o fluxo nos trens e metrôs de São Paulo, volta a superlotação, stress, cansaço e descaso. E para o trabalhador só resta a esperança de um dia ter um transporte digno, a ponto de dizer que “adoram”, como as celebridades declaram.
As fotos foram pensadas em dípticos com fotos produzidas em 2019 e 2020.




















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Minibio
Antonia Sousa, cearense, cursou técnico em processos fotográficos no Senac Lapa – Scipião, moradora do Grajaú -SP, onde desenvolve um projeto fotográfico de vivência do seu dia a dia na periferia de São Paulo.
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Para conhecer mais o trabalho da artista
https://www.instagram.com/clotidiano/
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente