A Forma da Luz.
Em meio ao caos, um respiro. Um alívio deixar a mente livre das angústias por um breve momento. Angústia da incerteza, ou da aparente certeza, de um rumo inumanista que o mundo tem caminhado. De um lado, um vírus que nos assombra a todo instante, com um elevado número de óbitos diário, e de outro, uma desesperadora onda conservadora que se alastrou pelo mundo, levando pessoas inconsequentes, despreparadas e alienadas ao poder. Intensificou-se uma bipolarização da sociedade e um sentimento de ódio incentivado pelo governo. Como se tudo fosse binário, a população se divide, ao invés de se unir para lutar por seus direitos básicos.
Acredito que viver toda essa bipolarização em uma era tecnológica como estamos vivendo, seja ainda mais perigoso e exige um grau ainda maior da necessidade de nos manter lúcidos e cientes do nosso entorno. Os algorítimos digitais, para quem tem acesso à internet, estão suscetíveis. Intensificam ainda mais essas bolhas de informação, controlando o que cada um de nós tem acesso.
Diante de todo o contexto atual, fomos obrigados a nos isolar e permanecer entre quatro paredes. Pelo menos por um tempo, isso perdurou. O presente assusta, com tudo isso à flor da pele – os índices raciais dos óbitos que escancaram o racismo estrutural da sociedade, o aumento de violência doméstica e do número de feminicídio, também assuta, e muito – o respiro é olhar pra dentro, e a falta de liberdade durante a quarenta, me fez fazer isso.
Lá, você encontra o que procura. Encontra a luz, a paz e a felicidade. Um verdadeiro mergulho no autoconhecimento, que traz um alivio libertador. É o respiro no meio do caos e trouxe isso em forma de imagens fotográficas, que compõem “A forma da luz”. O ensaio trata-se de um lento despertar, por passarmos de manchas mais abstratas para formas pouco a pouco reconhecíveis.
Cada imagem contém uma história e, por meio da materialidade, associa-se luz, sombra, movimento e espaço. Trata-se de um percurso que, saindo do impalpável, vai dando feição ao que é concreto, passando por uma dança das formas, que são vistas através de uma luva translúcida de tecido.
A luz que incide pela janela do estúdio, reflete a metáfora da própria câmera fotográfica, um mecanismo que permite que nos abramos para o mundo, ao mesmo tempo que nos distanciamos, em silêncio, dele.
A composição de luz e sombra, sobreposta por um tecido translúcido, mostra a vontade que a luz ilumine o que está fora do mundo, ou protegido dele, e como disse um professor meu a respeito desse trabalho, trata-se de um “desenho de uma luz interna”. O desenho de um despertar, que só foi possível encontrar, olhando para dentro.
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Minibio
Isadora se formou em arquitetura em São Paulo em 2019 e, desde então, vem se dedicando ao seu trabalho como fotógrafa. Sempre teve a fotografia como meio de se expressar e, em seus trabalhos, procura trazer à tona o seu interior. Trabalhou como assistente do fotógrafo Claudio Edinger quando era mais jovem e atualmente segue como artista independente, guiada por um espírito livre e viajante.
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Para conhecer mais o trabalho da artista
https://www.instagram.com/isadoradbarros/
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente