Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #36 – Felipe Beltrame: Fogo!

Felipe Beltrame apresenta o 36º ensaio do Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro - Imagens que narram nossa história
Fogo!

Fogo! Para que essa história acontecesse, a fumaça não precisou viajar do norte para o sudeste e escurecer a tarde paulistana. Durante todo o domingo de 12 de junho de 2020, a floresta queimou na Terra Indígena Jaraguá.

O acesso aos locais atingidos pelo incêndio era difícil. Durante a noite, a escuridão em um terreno íngreme, brasas queimando ou o solo quente, marcavam a passagem do fogo pelo local e exigiram conhecimentos e habilidades exclusivas dos que pertencem àquela terra.

Enquanto tragavam a fumaça produzida pela Mata Atlântica carbonizada, os guardiões da floresta protagonizaram a sua salvação. Impelidos à proteção da mata que os cerca e sem infraestrutura adequada, indígenas espancavam as chamas utilizando galhos com folhagem verde até abafarem o fogo.

Em um dos momentos em que adentrávamos à floresta, comecei a me coçar, sentindo o incômodo de pequenos arranhões feitos por galhos e folhas. Ao ser percebido, a resposta veio de um dos indígenas do grupo: “Deixa coçar. Experimente sentir essa sensação. A vida na cidade deixa o homem branco desconectado da natureza e sentir essa coceira, esse incomodo, significa a fase de transição entre estados de espírito. Você vai perceber que, em breve, não sentirá mais nada e essa será a prova de que você conseguiu se conectar com a natureza”.

Em 2019 e 2020, acompanhamos relatos sobre os incêndios que avançaram sobre a Floresta Amazônica. Assistir e ouvir sobre as ações indígenas nestes episódios, revela parte da realidade por eles vivenciada durante esses mais de 500 anos de invasões e ataques. Escutar a expressão “guardiões da floresta” foi realmente impactante. Na Terra Indígena do Jaraguá, no extremo noroeste de São Paulo, capital, vi a força deste termo empregada em jovens indígenas. Viver essa experiência permitiu a natural constatação de que o povo indígena cuida de todos, quando protege a natureza.

Fogo!
Fogo!
Fogo!
Fogo!
Fogo!
Fogo!
Fogo!
Fogo!
Fogo!
Fogo!
Fogo!
Fogo!

.

Conheça mais o trabalho do artista:

www.felipebeltrame.com

https://www.instagram.com/felipebeltrame/

.

O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS

A poeta e o monstro

A poeta e o monstro

“A poeta e o monstro” é o primeiro texto de uma série de contos de terror em que o Café com Muriçoca te desafia a descobrir o que é memória e o que é autoficção nas histórias contadas pela autora. Te convidamos também a refletir sobre o que pode ser mais assustador na vida de uma criança: monstros comedores de cérebro ou o rondar da fome, lobisomens ou maus tratos a animais, fantasmas ou abusadores infantis?

110 anos de Carolina Maria de Jesus

O Café com Muriçoca de hoje celebra os 110 anos de nascimento da grande escritora Carolina Maria de Jesus e faz a seguinte pergunta: o que vocês diriam a ela?

Quem vê corpo não vê coração. Na crônica de hoje falamos sobre desigualdade social e doença mental na classe trabalhadora.

Desigualdade social e doença mental

Quem vê corpo não vê coração.
Na crônica de hoje falamos sobre desigualdade social e doença mental. Sobre como a população pobre brasileira vem sofrendo com a fome, a má distribuição de renda e os efeitos disso tudo em nossa saúde.

Cultura não é perfumaria

Cultura não é vagabundagem

No extinto Reino de Internetlândia, então dividido em castas, gente fazedora de arte e tratadas como vagabundas, decidem entrar em greve.

Macetando e nocegando no apocalipse

Macetando e nocegando

O Café com Muriçoca de hoje volta ao extinto Reino de Internetlândia e descobre que foi macetando e nocegando que boa parte do povo, afinal, sobreviveu ao apocalipse.