Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #109 – Márcia Charnizon: Caça às Palavras

Márcia Charnizon apresenta o 109º ensaio do Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro - Imagens que narram nossa história
Márcia Charnizon, Caça às Palavras 15

Caça às Palavras.

Esse trabalho é sobre o poder das palavras, os discursos de violência contra a mulher que são normalizados e normatizados pelo patriarcado, numa sociedade atravessada pela colonialidade do poder, com seu sistema de privilégios e processos de opressão, e onde várias dinâmicas de narrativas violentas são sequer reconhecidas como tal.

Somos sujeitos da palavra e nos constituímos pela linguagem. Antes de uma agressão física e até chegar ao feminicídio, existe uma violência oculta – a violência do discurso.

Compreendendo que um ato violento é um ato de destituição de protagonismo, esse trabalho procura romper o silêncio, reunindo mulheres, acima de 50 anos, que como protagonistas de suas histórias, se despem, cada uma a seu modo, e mostram suas marcas a partir de frases violentas que fizeram parte de suas trajetórias. Cada uma das fotografias é o capítulo de uma história, em muitas das quais outras mulheres se reconhecem, com discursos machistas, racistas e misóginos, que são gatilhos da violência nas nossas relações sociais.

Como numa luz vermelha de um laboratório fotográfico, em que as imagens latentes se revelam, o que não se vê a olho nu, aparece nos corpos nus, nesse jogo de caça – palavras.

Frases e palavras presentes nas imagens enviadas

1- “Essa sua liberdade incomoda demais”
2- “Não gosto de fechar negócio com mulheres”
3- “Chama a dona da casa”
4- “Namoro ou estudo, as duas coisas não podem”
5- “Você nunca vai ser feliz sem um homem”
6- “Feministazinha emancipada”
7- “Separada, com três filhos, quem vai te querer?”
8- “Voz feminina não tem credibilidade na publicidade”
9- “Você podia ir para enfeitar a reunião”
10- “Você é muito machona”
11- “Você está velha para isso”
12- “Não venha pagar de virgem para cima de mim”
13- “Mulher que não é mãe não envelhece bem”
14- “Mulher independente demais assusta o homem”
15- “Se eu quiser eu acabo com você agora”
16- “Como mulher preta você não ousa”
17- “Vestida assim está pedindo para ser estuprada”
18- “Feminista, mocréia, vadia”
19- “As mulheres não sabem mais se enfeitar”
20- “Vai lavar vasilha, mulher”

Márcia Charnizon, Caça às Palavras1
Márcia Charnizon, Caça às Palavras2
Márcia Charnizon, Caça às Palavras3
Márcia Charnizon, Caça às Palavras4
Márcia Charnizon, Caça às Palavras5
Márcia Charnizon, Caça às Palavras6
Márcia Charnizon, Caça às Palavras7
Márcia Charnizon, Caça às Palavras8
Márcia Charnizon, Caça às Palavras9
Márcia Charnizon, Caça às Palavras10
Márcia Charnizon, Caça às Palavras11
Márcia Charnizon, Caça às Palavras 12
Márcia Charnizon, Caça às Palavras 13
Márcia Charnizon, Caça às Palavras 14
Márcia Charnizon, Caça às Palavras 15
Márcia Charnizon, Caça às Palavras 16
Márcia Charnizon, Caça às Palavras 17
Márcia Charnizon, Caça às Palavras 18
Márcia Charnizon, Caça às Palavras 19
Márcia Charnizon, Caça às Palavras 20

.

Minibio

Márcia Charnizon nasceu em Belo Horizonte, começou a fotografar em 1983, e desde então tem a fotografia como ofício e forma de expressão.
Se interessa pela identidade como construção social e como isso dialoga com as questões e tensões da vida contemporânea.

Temas como – fotografia, memória e a ressignificação dos afetos, as bolhas sociais e a mutação do signo “bolha” a partir da Covid 19 e a geração dos centennials e sua relação com as redes sociais, são inquietações presentes em seus últimos projetos pessoais.

Na fotografia comercial, sua trajetória é marcada por várias capas de Cd’s e trabalhos com artistas brasileiros nas áreas da música e do teatro, e tem uma especial atuação no campo da fotografia de família e tudo o que dialoga com história e invenção de memória.

.

Para conhecer mais o trabalho da artista

https://www.instagram.com/marciacharnizonoficial/

www.marciacharnizon.com.br

.

O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, de quintal, de rua, documentação desses dias de novas relações, essenciais, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS

A poeta e o monstro

A poeta e o monstro

“A poeta e o monstro” é o primeiro texto de uma série de contos de terror em que o Café com Muriçoca te desafia a descobrir o que é memória e o que é autoficção nas histórias contadas pela autora. Te convidamos também a refletir sobre o que pode ser mais assustador na vida de uma criança: monstros comedores de cérebro ou o rondar da fome, lobisomens ou maus tratos a animais, fantasmas ou abusadores infantis?

110 anos de Carolina Maria de Jesus

O Café com Muriçoca de hoje celebra os 110 anos de nascimento da grande escritora Carolina Maria de Jesus e faz a seguinte pergunta: o que vocês diriam a ela?

Quem vê corpo não vê coração. Na crônica de hoje falamos sobre desigualdade social e doença mental na classe trabalhadora.

Desigualdade social e doença mental

Quem vê corpo não vê coração.
Na crônica de hoje falamos sobre desigualdade social e doença mental. Sobre como a população pobre brasileira vem sofrendo com a fome, a má distribuição de renda e os efeitos disso tudo em nossa saúde.

Cultura não é perfumaria

Cultura não é vagabundagem

No extinto Reino de Internetlândia, então dividido em castas, gente fazedora de arte e tratadas como vagabundas, decidem entrar em greve.

Macetando e nocegando no apocalipse

Macetando e nocegando

O Café com Muriçoca de hoje volta ao extinto Reino de Internetlândia e descobre que foi macetando e nocegando que boa parte do povo, afinal, sobreviveu ao apocalipse.