Primeiro ‘DebateBoca’ entre candidat@s transexuais faz história     

Por Leo Moreira Sá e fotos de Lina Marinelli, especial para os Jornalistas Livres

O DebateBoca fez história ao realizar o primeiro debate entre candidat@s trans a vereador@s de São Paulo. Produzido pela Rede Jornalistas Livres e mediado pela jornalista Larissa Gould, o encontro aconteceu no dia 03 de agosto no teatro Heleny Guariba, reunindo fortes candidat@s de linhas políticas antagônicas: a professora de filosofia Luiza Coppieters (Psol) e o ator Thammy Miranda do Partido Progressista (PP). Num momento em que fundamentalistas religiosos e políticos ultraconservadores trabalham para minar direitos adquiridos e barrar o avanço dos movimentos sociais, o protagonismo de travestis e transexuais na arena política se mostra extremamente importante.

“O papel de uma vereadora que tem um gabinete na Câmara Municipal, que tem quase o mesmo poder de um deputado federal, é se colocar como interface das pessoas, de movimentos sociais, que tem demandas políticas, demandas no campo do trabalho, saúde, educação e da renda, para que aí sim a gente se fortaleça. “disse em seu discurso de apresentação a professora de filosofia Luiza Coppieters. Muito bem articulada, defendeu com maestria sua posição política baseada na ideia de que uma candidatura para ser legítima deve ser reconhecida pela comunidade para a qual se deseja fazer representar.

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Ativista transfeminista lésbica, Luiza mantém um diálogo intenso não só com a comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans mas também com a comunidade de mulheres lésbicas e bissexuais . Seu partido abriga Jean Wyllys, o único deputado federal assumidamente gay do Brasil e atualmente conta com cerca de 9 candidat@s e pré-candidat@s travestis e transexuais a vereador@s em todo país.

Em contraposição, o PP abriga figuras deploráveis do cenário político brasileiro, como Paulo Maluf, e já foi ninho de Jair Bolsonaro, agora membro do PSC, o pior inimigo da comunidade LGBT. O PP também foi parte da base de apoio à ditadura militar, quando se chamava ARENA.

“Não sou político e nunca fui, e se eu entrar (como vereador) também não serei. Deixei de fazer uma novela, para fazer algo pelo povo.”
Com essas palavras, apoiado em seu capital de celebridade midiática, o ator carioca Thammy se lança candidato a vereador de São Paulo depois de recusar um papel oferecido pela dramaturga Glória Perez em sua nova novela que será lançada em 2017. Ele justificou sua decisão dizendo que se fizesse a novela estaria beneficiando a si próprio e se lançando candidato teria a possibilidade de “fazer algo pelo povo”.

Indagado pela candidata do Psol sobre como ele faria para construir suas plataformas dentro de um partido que tem uma posição de direita conservadora, com um histórico de alianças com fundamentalistas religiosos e políticos interessados em barrar o avanço das conquistas de direitos humanos das ‘minorias’ em especial da comunidade LGBT, ele respondeu que “pra mim não tem partido, tem o que eu penso.”

Alexandre Peixe, membro do IBRAT – Instituto Brasileiro de Transmasculinidade e da ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais, disse que nenhuma das entidades que representam a comunidade T foi procurada pelo candidato do Partido Progressista.

“Pra mim pessoalmente e como membro do IBRAT ele não representa os homens trans. Ele não está preparado e não sabe nem o que está fazendo aí. Ele não sabe o que é ser político, porque não dá para dizer que você vai entrar na política sem ser político. Ele será engolido e será massa de manobra do partido para conseguir votos para a legenda”,  declarou Alexandre Peixe

Captura de Tela 2016-08-11 às 13.02.57Érick, um dos gêmeos criadores da página “Moça, você é machista”, compartilha da mesma opinião:

“Eu acredito que o Thammy Gretchen não representa os homens trans porque ele não entende a demanda, não dialoga com a militância. Ele tem uma outra visão de vida porque ele veio de uma outra realidade. Achei que ele foi péssimo (no debate) e a priori me parece uma pessoa muito despolitizada”

Em seu discurso politicamente bastante limitado, Thammy Miranda utiliza sempre o “eu” e em nenhum momento fala em “nós”: “eu não vou mudar meu jeito pra agradar ninguém, meu jeito é assim mesmo”. Quando fala da comunidade que deseja representar ele diz “os transexuais”, “os homens trans”. Quer impor uma candidatura que não se legitimou porque não se aproximou do movimento social e não ouviu seus pares políticos. Está num partido que tem um histórico ultraconservador e que tem se aliado aos fundamentalistas religiosos em várias situações. Se vale de uma espécie de “culto à personalidade” – dispositivo bastante usado em ações políticas autoritárias, e infelizmente tem grande possibilidade de arrecadar muitos votos para o seu partido.

O coordenador nacional do IBRAT, Lam Matos também se mostrou muito preocupado depois do debate. Disse que o Thammy está despreparado, que não tentou se atualizar com o movimento social e apenas ouviu alguns homens trans que não são da militância. Pontuou que é uma pena ele não não ter se aproximado para ouvir a comunidade trans porque com sua visibilidade e espaço na mídia ele poderia ajudar muito.

“Ele está na beira de causar um desastre com isso tudo. Ele não representa os homens trans, ele não tem uma articulação com a gente e é muito inexperiente, Essa inexperiência pode atrapalhar muito o movimento de homens trans nacional e dentro de São Paulo. Eu estou muito preocupado com o que pode acontecer depois desse debate.” desabafou Lam Matos.

 

 

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