A primavera estudantil brasileira chegou ao Recife.

Atividade na ocupação Xavier Brito.

A primavera estudantil brasileira chegou ao Recife.

Reportagem: Eduardo Nascimento

 

Atividade na ocupação Xavier Brito.
Atividade na ocupação Xavier Brito. Foto: Veetmano Prem

 

Como protesto aos cortes de gastos pelo governo federal com a PEC 55, ao projeto “Escola sem Partido e à reforma do ensino médio, estudantes já ocuparam 15 escolas de ensino fundamental e médio na região metropolitana, além de diversos prédios da UFPE, UFRPE e do IFPE, na capital e no interior.
“Escola sem partido é tirar o senso crítico do estudante”, comentou Lucas Matias, 17 anos, aluno da Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Xavier Brito. Ele conta que quando ocuparam sua escola, encontraram laboratórios de física e química cheios de equipamentos que nunca foram usados. No armário, soluções químicas de 2005 juntam poeira ainda com o lacre não rompido e beckers e tubos de ensaio posam como em uma vitrine, intocados.

 

Soluções químicas nunca usadas, trancadas em laboratório.
Soluções químicas nunca usadas, trancadas em laboratório. –  Foto: Veetmano Prem

 

Na EREM Martins Júnior, segunda escola do Recife a ser ocupada, alunos taparam buracos na parede, consertaram a parte elétrica mas até hoje sofrem com falta água. “Quando tem água a gente toma banho, quando não tem a gente usa só pra matar a sede”, contou Maria Aparecida, ex-aluna que dedica todo seu tempo livre à ocupação. Além da falta de água, a cozinha continua trancada e os ocupantes improvisaram com fogão e forno microondas numa sala de aula “ou era isso ou ficávamos com fome”.

Ocupantes constroem canteiro de plantas.
Ocupantes constroem canteiro de plantas. Foto: Veetmano Prem

A precariedade não é menor na EREM Joaquim Távora, ocupada no mesmo dia que a Xavier Brito. O copo d’água que nos servem vem de bebedouro remendado com barbante pelos alunos. Steh, ex-aluna, afirma que “falta professor biologia e português, falta merenda, falta água. Não tem educação física para algumas turmas porque a quadra não é coberta e ninguém aguenta correr embaixo do sol, então a gente joga dominó”. Das escolas que visitamos, a Joaquim Távora é a que se encontrava em maior dificuldade para conseguir se manter, “a gente às vezes faz vaquinhas para comprar comida”.

 

Cozinha improvisada na ocupação Joaquim Távora.
Cozinha improvisada na ocupação Joaquim Távora. – Foto: Veetmano Prem

 

A REPRESSÃO
O inimigo é ilegítimo e responde com armas ilegítimas. Maria conta que na primeira semana de ocupação da Martins Júnior era comum que viaturas da Polícia Militar aparecessem sem motivo aparente. “Eles tentaram nos intimidar e forçar a entrada. Quando não deixamos, o PM mostrou a arma, brincando com pente. ‘Vocês estão na lista negra’, ele falou”. O assédio moral também vem da Secretaria de Educação.
Já na Xavier Brito o diretor da escola chegou a agredir uma aluna que tentava impedir sua entrada. “Ele gritava ‘está ocupado? Então eu vou desocupar!’”, contou Lucas. Quando foram limpar o prédio, os alunos encontraram maconha, cola de sapateiro e cocaína nos banheiros e escadas. A suspeita é de que a diretoria tenha espalhado as drogas pelo prédio para deslegitimar a ocupação.

 

Alunos plantam horta na ocupação Xavier de Brito.
Alunos plantam horta na ocupação Xavier de Brito. – Foto: Veetmano Prem

 

Em diversas escolas ouvimos que professores e até alguns diretores são a favor da ocupação e contribuem enquanto cidadãos comuns, mas não podem se posicionar como membros da escola por medo de represálias da Secretaria de Educação.
Todas as ocupações têm horários determinados para refeições e demais atividades do dia. Os ocupantes se dividem em comissões de limpeza, segurança, cozinha, comunicação. Para aumentar a segurança, colocaram cacos de vidro e lanças de metal no muros mais baixos.

Confecção das lanças, a serem postas sobre os muros
Confecção das lanças, a serem postas sobre os muros. – Foto: Veetmano Prem

  
Desde que começamos a apurar esta pauta mais duas escolas já foram ocupadas – a Escola Técnica Estadual Lucilo Ávila e a Escola Estadual Governador Barbosa Lima. O movimento cresce e a reação reacionárias também. Steh não tem certeza se as ocupações têm como ganhar esta batalha, mas “mesmo que a gente não consiga ganhar, fica a união desse movimento”.

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