Preta Ferreira: “Eu tô livre, eu sou livre, eu sou inocente, a gente ocupa por necessidade”.

De vestido amarelo e segurando, com as duas mãos, uma bandeira vermelha onde se lia MSTC, iniciais do Movimento dos Sem Teto do Centro, a produtora cultural, cantora e ativista social Janice Ferreira da Silva, a Preta Ferreira, deixou a penitenciária feminina de Santana, em São Paulo, às 18h04 desta quinta-feira (10), exatamente 108 dias depois de ser presa em 24 de junho, acusada sem prova de extorquir moradores de ocupações públicas na região central da capital paulista.

Bastante emocionada, Preta Ferreira ultrapassou o portão do presídio e correu para onde estavam os advogados e alguns amigos.

“Eu tô livre, eu sou livre, eu sou inocente, eu não fiz nada. Deus é justo. Vamos trabalhar agora para provar minha inocência, a gene precisa de moradia. Ninguém ocupa porque quer, a gente ocupa por necessidade. Não matei ninguém, não roubei ninguém”, disse sob forte emoção.

Preta Ferreira deixou a prisão após o Tribunal de Justiça de São Paulo conceder nesta quinta-feira (10) um habeas corpus, o que deixa a ativista livre para acompanhar o processo em liberdade.

“Quero agradecer a todo mundo que nesses 108 dias me apoiou, me separaram da minha família, me torturaram, me colocaram num lugar horrível, me colocaram longe da minha família sem eu ter feito nada, nunca cometi nenhum crime e agora a gente vai trabalhar para provar minha inocência. Eu acredito na Justiça, mas antes da (justiça) do homem eu acredito na justiça Divina. Essa é a justiça que existe”, afirmou.

Além de Preta Ferreira, o TJSP também concedeu habeas corpos para Sidney Ferreira, irmão de Preta. A mãe deles, Carmem Ferreira, principal liderança do MSTC já estava em liberdade desde a semana passada.

“Eu hei de estar viva para provar a nossa inocência, eu hei de estar viva para ver todos os culpados pagarem o preço pela injustiça que cometeram com a gente”, disse.

Antes de entrar no carro junto com os advogados para ir ao encontro da família, Preta Ferreira disse que deixa a cadeia ainda mais forte para retomar a carreira de artista e produtora:

“Não parou nada, só me deram mais força. Eu conheci outro mundo, conheci outras pessoas que precisam de ajuda. Eu conheci outras mulheres que assim como eu estão ali devido ao país que a gente vive: racista, machista, opressor. Não é “a” Preta livre, são várias Pretas. Existem outras mulheres, somos milhares. O Brasil é o terceiro país do mundo em número de presos. Enquanto eles investem em presídio, a educação está ficando pra trás. As crianças não sabem ler, não sabe escrever. Estudem, gente. Porque quando a senzala descer, a Casa Grande vai surtar. Não vai prestar. Podem humilhar, podem bater, podem fazer o que quiserem, mas a gente vai se reerguer”, afirmou.

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