Pra quando o carnaval chegar – Representatividade, segurança e inclusão feminina

Pra quando o carnaval chegar – Representatividade, segurança e inclusão feminina

Por *Humberto Meratti, Revisão Jéssica Souza

Mais de 60 mulheres de aproximadamente 50 blocos do Carnaval de Rua de São Paulo estão à frente de uma iniciativa inédita para garantir ações que possam ser efetivadas, já no próximo ano, visando garantir a segurança e a integridade de mulheres e crianças durante a maior festa de rua da cidade: a Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo. Em sua última reunião, realizada em outubro, o grupo, que vem se articulado desde agosto, propôs pautas, levantou questionamentos, gerou discussões e ouviu desabafos sobre a condição feminina que vão além do Carnaval.

A ampliação da representatividade feminina nas esferas decisórias da organização do Carnaval de Rua era um desejo antigo de mulheres como: Andrea Lago, do Cacique Jaraguá; Silvia Lopes, do Nois Trupica Mas Não Cai; Paula Klein, do Agora Vai e a Baby Amorim, do Ilú Obá de Min, que há anos reivindicavam uma maior participação, além de movimentos como o Manifesto Carnavalista e o coletivo Arrastão dos Blocos.

 

Para Juliana Matheus, fundadora do bloco Filhas da Lua e integrante do Jegue Elétrico, “a escassez da participação feminina gerou diversos questionamentos no Fórum de Blocos e provocou uma articulação para que finalmente houvesse a criação de um grupo capaz de dialogar diretamente e de forma unificada com a Prefeitura e as secretarias envolvidas na construção do Carnaval 2020”.

“A comissão já tem quatro Grupos de Trabalho organizados: Assédio, Comunicação, Redução de Danos e Segurança”, detalha Thais Haliski, do bloco Cerca Frango. “Entre as reivindicações da Comissão estão ações como a distribuição gratuita de água; atendimento médico e policial; conscientização sobre a lei Maria da Penha; policiamento feminino; vagões para mulheres nos trens e no Metrô nos dias de Carnaval; campanhas infantis para cuidados, participação e planejamento dos pais para o Carnaval; entre tantos outros assuntos de relevância”. Além de Juliana e Thais, o grupo conta, ainda com Clarice Sá (Cacá), da Bateria de Rua e Renata Guimarães, da Confraria do Pasmado, na “comissão de frente” do grupo, atualmente com 49 representantes de blocos de rua.

A comissão destaca ainda que, o olhar feminino contribui para ampliar a perspectiva de quem produz o Carnaval, apontando novos elementos na luta pela construção de um ambiente mais inclusivo, seguro e acolhedor a todos, fortalecendo assim a democratização do processo de ocupação do espaço público.

Segundo Ronaldo Bitello, membro da Comissão do Carnaval de Rua da Secretaria Municipal de Cultura, é fundamental que haja a participação das mulheres na gestão dos blocos. “Acredito que, independentemente de serem ou não diretoras de blocos, a formação dessa comissão permite trazer um olhar feminino para contribuir nas decisões, e especialmente agregando a política pública do setor”, comenta.

Encontro do Fórum dos Blocos (out/2019)

De acordo com José Cury Filho, do Bloco “Me Lembra Que Eu Vou”, a formação desta Comissão significa uma maior representatividade da sociedade civil e das próprias mulheres na organização direta do Carnaval de Rua, onde não existem mulheres por exemplo, ligadas à Prefeitura de São Paulo. Segundo ele, “as pautas têm questões amplas sobre as mulheres, trazidas pela própria comunidade feminina que vive diretamente destas ações, questões que vão além das próprias campanhas de cidadania, além dos seus direitos resguardados em leis, evitando o assédio, o constrangimento, o preconceito, devido nossa sociedade ainda possuir o machismo estrutural, principalmente durante este período”.

O movimento já conquistou o reconhecimento e a legitimidade de suas ações junto à Secretaria de Cultura, Secretaria de Direitos Humanos e demais órgãos, incluindo a Polícia Militar do Estado, mesmo sabendo do difícil diálogo entre alguns setores públicos.

Saiba mais sobre a Comissão Feminina do Carnaval de Rua em sua página no Facebook: https://www.facebook.com/CFCRSP/

*Humberto Meratti é gestor cultural e ativista.

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. Eu gostaria de entender por que uma matéria que fala sobre a representatividade feminina no carnaval para ações tão sensíveis às mulheres não foi ouvir as MULHERES que estão à frente da iniciativa mas, ao contrário, concedeu o maior espaço das aspas a um HOMEM.
    Francamente…

  2. Ola Flávia Aguiar.
    Nossa revisão comeu bola e não citou a Thais Haliski, do bloco Cerca Frango, com sua fala no 4° parágrafo. Corrigimos o texto.
    Outras participantes dos blocos ligadas a Comissão Feminina não puderam participar no momento da entrevista.

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