The Economist, a revista inglesa que completou 175 anos neste mês, tem a enorme qualidade de expor sua ideologia liberal sem meias palavras e sem tentar fingir isenção ou neutralidade como faz a maior parte dos meios comunicação. Mesmo discordando é preciso reconhecer.
Em um longo ensaio, na edição de aniversário, seus editores reconhecem as falhas e as promessas não cumpridas pela política que advogam. Vão além, temendo a escalada autoritária mundial, para propor a “reinvenção do liberalismo para o século XXI”.
A falta de regulação no mercado financeiro e a falta de atenção às pessoas e às localidades prejudicadas pelo comércio globalizado, aliadas à promessa não cumprida de progresso para todos, aos mercados manipulados pela concentração de poder de algumas empresas e às mudanças climáticas são alguns dos componentes do pano de fundo que conforma o desencanto dos eleitores que se deixam levar pelo canto dos candidatos autoritários.
O artigo de capa e o editorial, da edição desta semana, revelam a ameaça representada por Jair Bolsonaro e vocalizam o temor de que o caminho brasileiro possa desembocar em um regime autoritário de tipo fascista, contrário ao ideário liberal de seus fundadores de ontem e editores de hoje,
Importa ressaltar que, mesmo tendo aconselhamento econômico de um cria da Universidade de Chicago, bastião das ideias de livre mercado, a revista não hesita em apontar o risco de se eleger um candidato que:
- 1) “disse que não estupraria uma deputada porque ela era ‘muito feia’”
- 2) “disse que preferiria um filho morto a um filho gay”;
- 3) “sugeriu que aqueles que vivem em uma comunidade fundada por escravos que escaparam são gordos e preguiçosos”; e que
- 4) “dedicou seu voto pelo impeachment de Dilma Rousseff ao comandante de uma unidade responsável por 500 casos de tortura e 40 mortes durante a ditadura militar”.
“Todos os presidentes brasileiros precisam de uma coalizão no Congresso para aprovar leis. Bolsonaro tem poucos amigos políticos. Para governar é possível que ele degrade ainda mais a política pavimentando o caminho para alguém ainda pior”, diz o editorial da revista.
As reformas necessárias para o Brasil tornar saudável sua democracia não são fáceis nem rápidas, opina a revista e conclui: “O sr. Bolsonaro não é o homem para promover isso”.
Veja o editorial original em https://www.economist.com/leaders/2018/09/20/jair-bolsonaro-latin-americas-latest-menace