Porque choram as mulheres indígenas

A capital está úmida. Não chove há um bom tempo, mas está úmida. Creio ser o pranto das mulheres indígenas que a todos limpam.

Tão diferentes em seus jeitos, tão iguais no ver do mundo, mulheres que cantam em grupo, falam da mãe terra, de seu útero, do sangue das árvores.

 

Choram porque, na manhã de entendimento capital, o pranto se tece há séculos, entre caçadas dos brancos aos familiares que povoavam cada canto desse chão. É fato, milhões foram extirpados, a nação não pode mais negar, por mais que envergonhe a todos.

É distinto ver as mulheres indígenas falarem, diferente dos homens, se emocionam profundamente,  invertem as cores dos fatos, dão uma graça trágica naquele inferno que fomos. 

Olham-me com perdão, tão envergonhado fico ao saber que a conquista do território carreou tantas tragédias. É vermelha a cor da bandeira, vejo bem, e as indígenas a querem verde, simples assim, mãe.

 

Respeito, palavra de difícil entendimento.

Em Brasília, várias representantes de seus povos constroem a própria história que o país sufoca, imagens de suas heroínas nos mostram. As assassinadas, decepadas, as professoras, as deputadas, vereadoras ou candidatas, mulheres que deram e dão a vida para serem indígenas.

A paz é o melhor lugar, e cantamos com elas em luta. Resistência não chora.

 

imagens por Helio Carlos Mello.

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