Por reforma agrária nas terras dos corruptos, MST ocupa mais uma de Eike Batista

A fazenda está devastada pela degradação ambiental. As atividades pretendidas pela MMX poderiam acarretar numa crise do abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Com promessa de expansão de negócios e desenvolvimento através da mineração, Serra Azul (MG) é mais uma das diversas localidades abandonadas pela MMX Sudeste, mineradora de Eike Batista, deixando como legado um completo desequilíbrio ecológico.

Num ato de devolver ao povo as terras que lhes pertence e punir os corruptos por abusar dos recursos naturais do país, cerca de 200 famílias sem terra ocuparam, nessa quarta-feira (26), a Fazenda de Eike Batista. A ação faz parte da Jornada Nacional de Lutas, que traz com o lema “Corruptos, devolvam nossas terras!”.

Foto: Agatha Azevedo / Jornalistas Livres

Dentre as ações já realizadas na jornada estão a ocupação da fazenda de Coronel Lima, parceiro de delações por corrupção e amigo pessoal de Michel Temer, no interior de São Paulo, o latifúndio do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, localizado no interior do Rio de Janeiro, a Fazenda de Blairo Maggi, a sede do Incra em Salvador (BA), entre outras localidades.

As condições em que se encontram os cerca de 700 hectares de terra abandonada ferem gravemente o artigo 255 da Constituição Federal, que visa proteger o meio ambiente e deveria impedir “práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”.

O local fica na divisa dos municípios de Itatiaiuçu, Brumadinho, Itaúna, Mateus Leme, Igarapé e São Joaquim das Bicas. Na região, se encontram as bacias do rio Manso e rio Serra Azul. Estes dois rios são responsáveis por cerca de 33% do abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e se somam aos sistemas de abastecimento de água da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa).

Foto: Agatha Azevedo / Jornalistas Livres

Isto significa dizer que as ações gananciosas de Eike e companhia, já que a região também é explorada pela Usiminas, podem prejudicar o abastecimento de água de mais de 5 milhões de pessoas, e os problemas podem ser ainda mais graves, já que os impactos da exploração de ferro na região poderiam ser sentidos ao longo da bacia do Rio São Francisco, na Região costeira do Atlântico Sul.

As minas de Tico-Tico e Ipê foram responsáveis pela destruição de grande parte da fauna e da flora silvestres da região. Várias cavernas com formações de minério de ferro foram abaladas pelo trânsito intenso dos caminhões e escavadeiras da mineração. As máquinas expulsaram a vida que pulsava na região, e tamanduás, lobos-guará e veados se tornaram cada vez mais incomuns.

Eike Batista está preso, em sua mansão, por envolvimento em um esquema de corrupção envolvendo o ex-governador fluminense Sérgio Cabral. Sua falência é datada de 2013, e a MMX Sudeste tenta capitalizar recursos passando as atividades minerárias para a empresa estrangeira.

Não há como negar a culpa do empresário na destruição das bacias hidrográficas da região. No primeiro semestre de 2011 a Emicon Mineração e Terraplanagem Ltda., empresa que pretendia ter três usinas de beneficiamento na região, já havia apontado para algumas irregularidades. Era possível constatar sinais de assoreamento de rios e córregos e barragens de rejeito acima de níveis considerados seguros.

Foram mais de 65 propriedades compradas somente na região metropolitana de Belo Horizonte, totalizando 2,5 mil hectares de terras que visavam triplicar os números anuais de extração e processamento de minério. Cidades como São Joaquim de Bicas, Brumadinho e Igarapé se encontram hoje abandonadas e improdutivas.

Foto: Agatha Azevedo / Jornalistas Livres

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