A quinta-feira santa na Rocinha foi mais um dia de desespero para os moradores. Mais um trabalhador foi assassinado pela polícia na porta de casa.
Davidson Farias de Moura, de 28 anos, negro, segurava o filho de 10 meses no colo, quando foi baleado na própria varanda, e não resistiu ao ferimento.
Vizinhos e familiares relataram – unanimemente – que a polícia subiu a favela atirando, após escutar barulhos que pareciam de armas de fogo, e que um desses seus tiros acertou Davidson. A bala utilizada para assassiná-lo chegou a ser recolhida no chão por amigos, bem como a camiseta branca que ele utilizava no momento, e que acabou ficando encharcada de sangue.
Um assassinato que intensifica a tragédia em uma comunidade onde, há dias, todos compartilham o medo de ficar perto de portas e janelas ou de sair na rua.
Este é o décimo terceiro assassinato em uma semana de operações do BOPE e do Batalhão de Choque na favela da Rocinha, que é a maior favela do Rio de Janeiro e que recentemente foi palco de uma intensa disputa entre facções criminosas. E, mais grave ainda, os moradores dizem que o número real de mortes desde o inícios das operações é bem maior e que, como já se tornou hábito nesses movimentos das polícias do Rio, alguns corpos foram “despachados” em locais clandestinos, impossibilitando o registro de óbito. Quase todas as vítimas eram jovens negros.
O comando da operação, como sempre, negou tudo e, neste caso, divulgou nota praticamente afirmando que os moradores inventaram todo enredo enquanto a polícia estaria fazendo um excelente trabalho para protegê-los.
A farsa é compartilhada pelo governador do estado, Fernando Pezão, do MDB, que está no cargo por força de um recurso a sua condenação na justiça, e que segue preferindo o silêncio sobre a comunidade, deixando seus mais de 150 mil moradores a própria sorte, enquanto curte o feriado de Páscoa com familiares no imóvel de luxo que possui no Leblon.