Pistoleiros cometem atentado contra ocupação rural no Norte de Minas

Liderança do movimento foi baleado e respira com a ajuda de aparelhos. Ruralista é sócio de ex-prefeito de Montes Claros, condenado por corrupção.
Área da Fazenda Norte América ocupada pelo MST no ano passado, próxima ao lugar onde o FNL foi atacado em Capitão Enéas

Uma ocupação rural foi atacada por pistoleiros nessa quinta-feira, 8 de março, em uma fazenda no município de Capitão Enéas, no Norte de Minas Gerais. Homens armados renderam as famílias que estavam no local, agredindo mulheres e crianças. Ao todo, seis pessoas ficaram feridas, quatro foram golpeadas com coronhadas e duas baleadas. Entre os feridos, o mais grave é a liderança do movimento, Thiago Coimbra Silva, 31 anos. Ele chegou a correr risco de perder a vida e, atualmente, respira com ajuda de aparelhos.

O atentado aconteceu durante a tarde na Fazenda Norte América, a 6 km da cidade. Jagunços levados por um caminhão-baú chegaram disparando contra famílias ligadas ao FNL (Frente Nacional de Luta) que ocupam a propriedade. Somente após o incidente a Polícia Militar chegou ao local. Nove pessoas foram presas, dentre elas um advogado a serviço do suposto proprietário do terreno. Nenhum órgão público divulgou seu nome, mas o MST, que também atua na região, o identificou como o ruralista Leonardo Andrade: “A fama sobre a violência deste latifundiário e seu envolvimento em casos de corrupção, ligados a Ruy Muniz, ex-prefeito de Montes Claros, é amplamente conhecida nas terras mineiras”, afirmou a direção do movimento.

Em coletiva de imprensa, o delegado Jurandir Rodrigues César Filho afirmou que tudo indica que o atentado foi encomendado pelo suposto dono. Após interrogatório, o motorista do caminhão assumiu que tinha recebido R$ 400 para ajudar na fuga dos pistoleiros.

LEONARDO ANDRADE E TIROTEIOS

Não é a primeira vez que sem-terras recebem bala em Capitão Enéas. A propriedade é ocupada desde janeiro do ano passado tanto pelo Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) quanto pelo FNL. A área era improdutiva e os movimentos apontaram diversos indícios que era utilizada como lavagem de dinheiro por Ruy Muniz e seus sócios. A fazenda possui uma dívida milionária com um banco após ser arrematada pelo grupo Soebrás (Sociedade de Educativa do Brasil). A dívida nunca foi paga. A Soebrás seria uma das várias entidades filantrópicas e empresas utilizadas por Ruy Muniz para desviar recursos federais e da prefeitura de Montes Claros. Por tais desvios, o ex-prefeito foi detido em setembro de 2016, assim como seus sócios. Leonardo Andrade se destaca porque além de ser sócio do grupo, ocupou o cargo de secretário de Desenvolvimento Sustentável, Meio Ambiente e Agricultura durante a gestão de Muniz.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) assume que foi procurado por um advogado, supostamente representando Leonardo Andrade. Ele havia se disposto a vender as terras ao Instituto, que, por sua vez, as destinaria à criação de um assentamento. No entanto, o ruralista nunca entregou documentos comprovando a posse da terra e, por isso, o processo nunca avançou.

O ataque ao FNL não é o primeiro do fazendeiro. Em abril de 2017, Leonardo Andrade organizou uma emboscada contra militantes do MST. Os sem-terra se dirigiam para uma reunião proposta pelo ruralista na sede da fazenda, mas, no meio da estrada, eles foram recebidos a balas. Várias pessoas se feriram, inclusive uma criança de dez anos, atingida de raspão no rosto. Mais três pessoas foram baleadas e levadas ao hospital. Testemunhas indicam que Leonardo Andrade estava no local assistindo enquanto seus capangas disparavam contra as famílias.

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