Respeito e gratidão são palavras que não rimam com mercado, economia ou capital. Em 2015 deu-se em Paris a Assembléia dos Guardiões da Mãe Natureza, a qual reuniu representantes indígenas, organizações do planeta preocupadas com a qualidade de vida dos povos originários, que chamaram a atenção para o fato de que os povos indígenas representam 370 milhões de pessoas, localizadas em 70 países em cinco continentes. São mais de 5.000 grupos diferentes, falando mais de 4.000 línguas.

Em tempos de crise e retrocessos tudo parece conspirar para desastres e tão tensas se mostram dúvidas  e dogmas. Em aldeia dogma à beira da fogueira é cinza e o fogo arde na madeira que aquece e coze. Três são os meninos na beira do fogo e três  são as aves que voam e as meninas que correm na água fina da beira. Tudo se faz em parceria nos rincões.

 

Entre nós três são os poderes que disputam a rima e no planeta os líderes desafinam e refazem acordes e acordos para o meio ambiente, cada qual cuida de seu interesse em um único planeta. Carlos Drummond de Andrade ecoa meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus, se sabias que eu era fraco. 

Temer não teme, entende com seus ministros que desmatar é preciso e que a grilagem é mal necessário a ser combatido com a legalização das terras. Falam em “integração social” de indígenas e quilombolas e querem rever os limites das áreas de preservação. Querem reduzir a Floresta Nacional do Jamanxim  enquanto matam trabalhadores como porcos em Pau D’Arco.

Lembro-me de ver esse ano o cacique Raoni  falando num iPhone, em Brasília, em língua diversa, lamentando a floresta que míngua. A poucos metros dali, no palácio, o presidente compõe e questiona: para que tanto mato? Raoni, também chefe de Estado, entende o mundo diferente, indígena sabe que a floresta é tal mãe da gente, ou pai que cai doente e a todos desampara.

Imensa solidão sentem, em horizonte tão vasto que nos envolve, os que da terra querem dela viver. Planta-se a discórdia no campo contra indígenas, quilombolas, caiçaras e campesinos.. Os mais pobres continuam à beira das rodovias, morando nas calçadas ou expulsos de suas praias e roças seguem sem terra. Há mais de década, ronda os ares o espírito da discórdia ao limite das terras e direitos aos que dela vivem e são.

Índios dos Andes a chamam Pacha Mama. À Mãe Terra se nega, se mata, se grila, se vende; enfim, dá-se a posse a alguns brasileiros. Mudam-se os nomes, mas a natureza segue uma só e padece. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. Num país de sete faces, Drummond tinha razão, ser Raimundo seria uma rima, não seria solução. No Brasil seguimos gauche na vida.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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