Para Bolsonaro, sua vida vale um dólar

Presidente viu na morte da população uma oportunidade de lucrar

Por Ramon Andrade e Vitória Genuino, coordenadores nacionais da Juventude Fogo no Pavio

Ao final do dia de ontem, 29, fomos surpreendidos com a revelação de um esquema bilionário de corrupção em cima da compra de vacinas. O governo Bolsonaro teria pedido como contrapartida à compra da vacina AstraZeneca o valor de mais 1 dólar, hoje valendo em torno de 5 reais, em cima de cada unidade adquirida. Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que representa a empresa Davati Medical Supply, relatou ter recebido esse pedido em fevereiro deste ano por parte de Roberto Ferreira, diretor de Logística do Ministério da Saúde.

Esse fato, denunciado na noite de ontem, apenas demonstrou de forma articulada como o governo federal trata a vida da classe trabalhadora: vidas descartáveis, secundárias em relação ao lucro que se pode obter, em meio ao caos e a tristeza.

O fato novo nos surpreende pela crueldade no lucro que seria obtido em torno das milhares de vidas, mas não se pode compreender como novidade de atuação do governo. Desde a descoberta da pandemia, o que assistimos foi um total negacionismo do presidente e a criação da falsa contradição entre salvar vidas e/ou salvar a economia. Como se, numa ordem de prioridades, as vidas não viessem em primeiro lugar, ou como se não fosse possível, através dos exemplos internacionais de enfrentamento ao Covid-19, que houvesse um cuidado mútuo por parte da gestão pública com ambos.

Esse desprezo pela vida sempre esteve presente nas posições públicas de Bolsonaro no último ano, desde quando disse que era só uma gripezinha, que não era coveiro, ao incentivar aglomerações, o não uso de máscaras e até chegar a rir enquanto imitava uma pessoa com dificuldades respiratórias, uma das mais letais complicações trazidas pela Covid-19.

A Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19, que terá como foco essa nova denúncia de corrupção já tem trazido à tona alguns fatos que comprovam essa política de morte. No depoimento de Luana Araújo, ex-secretária do Ministério da Saúde, foi revelado que o bloco governista defende a tese da “imunidade de rebanho”, que consiste em alcançar imunidade pela propagação natural da doença, deixando a infecção pela doença descontrolada. Em outros depoimentos, ainda houve a escandalosa revelação de que o governo federal não respondeu a 53 e-mails da Pfizer, empresa farmacêutica que queria fornecer vacinas ao Brasil e fazer daqui um exemplo de vacinação para o restante do mundo, e também da rejeição de três ofertas de compra da Coronavac, podendo naquela época, com a compra dessas vacinas, ter salvo em torno de 95 mil vidas.

O que não se sabia, até então, é que Bolsonaro havia visto na morte da população uma oportunidade de lucrar. Nos últimos dias, Luís Ricardo Miranda, chefe de importação do Ministério da Saúde, apontou irregularidades na compra da Covaxin, vacina indiana contra o Coronavírus. Entre as denúncias, revelou adulteração do documento que previa o pagamento antecipado de 45 milhões de dólares para uma empresa sediada em Cingapura, um paraíso fiscal. Essa irregularidade, segundo o depoente, foi comunicada ao Governo Federal, que nada fez, ou seja, cometeu crime de prevaricação.

Em 25 de fevereiro de 2021, quando o pedido de propina para aquisição de vacinas teria acontecido, o Brasil registrava a marca de 251.661 mortos por coronavírus. No momento em que esse texto é escrito, 516.119 pessoas perderam a vida, mais que o dobro de mortes. Isso significa dizer que a vida dessas pessoas valia 1 dólar para a Bolsonaro e que, sem o dinheiro obtido através do esquema de corrupção, ele não se importava com elas.

O ódio e o desprezo pela vida sempre esteve presente nos discursos em toda a vida política de Bolsonaro, mesmo antes do exercício da presidência. Com a pandemia, mais um lado obscuro se revela. Vidas que poderiam ter sido salvas, famílias que poderiam não ter sido dilaceradas, amigos e amores que poderiam não ter partido. Não há outro termo para descrever as ações do Governo Bolsonaro que não o genocídio.

Diante de tantos crimes, que a impunidade não se prolongue e que mais dos nossos não tenham suas vidas ceifadas. É hora de impeachment!

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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