PARA AS ÁRVORES NADA.

As velhas e grandes árvores não votam, ao contrário, sombream. Os seres mais ameaçados são as árvores, os mais quietos, os mais fracos, os mais velhos. Nunca veremos árvores protestando nas ruas, defendendo o direito à terra, direito à moradia, direito à água ou aposentadoria.

 

Se a renda aumentou no campo e é recorde a venda de fertilizantes no país, excluídas são as árvores na distribuição de renda ou na política de cotas são lembradas em seus direitos. Árvore só tem deveres aqui, ser bonita, dar flores e frutos, madeira de lei para móveis e  chão para os ricos, abastados comerciantes, poderosos fazendeiros ou seus deputados e senadores. Para as árvores nada, assim ficou decretado quando as caravelas aqui aportaram.

 

O poeta Manoel de Barros, certa feita escreveu o quanto seu irmão aprendera quando foi árvore também. Contava o poeta Manoel:   um passarinho pediu a meu irmão para ser uma árvore. Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho. No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol, de céu e de lua mais do que na escola. No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo mais do que padres lhes ensinavam no internato. Aprendeu com a natureza o perfume de Deus. Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul. E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida nos troncos das árvores só serve para a poesia.

 

 

 

 

 

 

 

Entre as árvores tombadas na peleja, tantas borboletas e abelhas ou animais de couro, arrasto e plumas. Povos ribeirinhos, indígenas, matutos, tanta gente também entre os matos caídos. Comunidades e seus conhecimentos se perdem. Sem os xamãs indígenas que fortalecem as árvores, o céu cairá sobre os homens, relata Davi Yanomami. Mas disso não querem saber os candidatos nem de saberes ancestrais querem nutrir o futuro. Tudo deve ser empreendimento, novas minerações, campos do agro.

 

Árvore não vota, triste. Votassem, da Amazônia ao cerrado, da Serra Geral à caatinga tudo seria palanque e agrado à mata virgem. Talvez até um pé de couve teria respeito, mas não, o verde primário não conta nos planos e metas dos candidatos nem tantos eleitores pensam também nos direitos das árvores.

 

Árvore não vota.

 

  • Fotografias por Helio Carlos Mello©

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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