Por Ricardo Melo, especial para os Jornalistas Livres
Ricos tentam parecer chiques até na hora de roubar. Nada de falar em esconderijos, mas paraísos fiscais. O nome é sugestivo. Os que utilizam o expediente teriam encontrado o caminho da felicidade em vez do inferno dos impostos, boletos, obrigações sociais e responsabilidades legais a que é submetida 99% da população mundial.
Os “Pandora Papers”, recém-publicados, expõem mais uma vez um esquema internacional que é a cara do capitalismo em estado bruto. Obra do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, o trabalho examinou 11 milhões de documentos. Aqui no Brasil, participaram da investigação sites como o “Poder 360”, a revista “Piauí”, a Agência Pública e outros veículos. Disso resultou um escândalo mundial revelando o tamanho da gatunagem que mantém o mundo na miséria e na pobreza.
A exumação da papelada envolve de chefes de Estado a “empresários” celebrados no mundo inteiro. Detalhe: o Brasil está entre os top five com maior quantidade de pilhados na lista dos usuários dos paraísos. Isso inclui Luciano Hang, Prevent Senior, CNN local e pelo menos mais vinte ricaços.
Eis que, na lista, reluzem nomes como Paulo Guedes (ministro da Economia) e Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central).
Até um idiota percebe a incompatibilidade entre tais funções públicas e a utilização de expedientes para fugir de impostos e obrigações cobradas dos brasileiros comuns como nós. Tanto é assim que Campos Neto ensaiou desculpas falando que se afastou da empresa que mantinha no paraíso quando assumiu o cargo –o que é mentira, pois ficou pelo menos mais um mês à frente dela. Esqueceu de dizer o que aconteceu com as outras três onde também tem participação.
Paulo Guedes vive no paraíso enquanto o povo…
A situação de Guedes é ainda pior. Especulador de ofício, proprietário de conta em paraíso fiscal, recusa-se a esclarecer qual sua posição atual na empresa, a movimentação de dinheiro desde que assumiu o cargo e a expor publicamente sua declaração de renda. Guedes é aquele que atacou o direito dos mais pobres de viajar à Disneylândia. Ao mesmo tempo, articula nos bastidores redução de tributos para dinheiro enviado ao exterior. Um salafrário assumido.
Não é à toa que as estatísticas internacionais registram um empobrecimento geral enquanto os ricos ficam cada vez mais ricos. Uma engrenagem infernal, nada paradisíaca para os 99%, está montada para proteger e ampliar a pilhagem dos pobres. E ainda temos que ouvir gente que se diz jornalista dizer que tudo isto não é ético, mas está dentro de lei.
Lei para quem? Para o 1% que vive da exploração cruel e sem limites dos mais humildes e desfavorecidos. Só que, no caso Brasil, nem sequer as leis permissivas acolhem tamanho escândalo em se tratando de autoridades públicas.
Diz o Código de Conduta da Administração Federal, aprovado em 2000:
“É vedado o investimento em bens cujo valor ou cotação possa ser afetado por decisão ou política governamental a respeito da qual a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo ou função, inclusive investimentos de renda variável ou em commodities, contratos futuros e moedas para fim especulativo, excetuadas aplicações em modalidades de investimento que a CEP [Comissão de Ética Pública] venha a especificar”.
Precisa desenhar?
Uma resposta