O cara que inventou que o tocar de cotovelos seria o cumprimento “sanitariamente correto” diante do surgimento de novos vírus ameaçadores, esse cara é um gênio do mal. No futuro, se houver futuro, o toque de cotovelos será a lembrança grotesca de como certos cuidados para evitar o contágio pela Covid-19 nos transformaram em cobaias assustadas em um profundo experimento de manipulação social. Assustadas, paranoicas e o pior: ridículas.
Dá para combater a pandemia sem essa dose dispensável de extravagância.
Nos 200.000 anos de história da Humanidade, sociedades formaram-se, deformaram-se e se destruíram, sendo substituídas por outras, ou adaptando-se de modo a garantir melhores chances de sobrevivência. Demonstrar amizade, para nossos ancestrais, era condição necessária para o trabalho colaborativo (voluntário ou não), que permitisse vencer os desafios impostos pela natureza e, dentro dela, por espécies concorrentes pelos recursos alimentares do território.
Por isso a Humanidade desenvolveu um imenso arsenal de gestos de saudação, cumprimento, amor, respeito e afeto. Nós beijamos, nos abraçamos, nos tocamos, sorrimos, damos as mãos. Os indígenas que habitam regiões em torno do Círculo Polar Ártico, comumente chamados de esquimós, cheiram bochechas, nariz e testa de amigos e familiares. São formas de cumprimentos agora desaconselhadas, fazer o quê?
Mas há muitas outras. Sem contato físico. Japoneses, chineses e coreanos reclinam o tronco em direção à pessoa que está sendo cumprimentada. Na Índia e no Sudeste Asiático, o cumprimento é feito com as mãos unidas e polegares juntos ao peito, enquanto se inclina o rosto para baixo e se diz alguma variante local do sânscrito “Namastê”, que significa “Eu me curvo diante de ti”. Os Masai fazem a dança das boas-vindas chamada “Adamu”, como cumprimento. No mundo árabe, o cumprimento tradicional é feito com a mão direita tocando o coração, depois a testa e por último fazendo um meneio no ar para cima da cabeça. Os gestos são acompanhados das palavras “Salaam Aleikum”, que significa “Que a paz esteja convosco”.
Cumprimentar-se é tão importante sinal dentro de uma cultura que até os humanoides do planeta Vulcano, a Confederação de Surak, dispõem de um gesto próprio, que consiste em levantar a palma da mão para a frente com o polegar estendido, enquanto os quatro dedos se separam no meio, ficando dois dedos juntos de cada lado: “Vida longa e próspera”.
Tantas alternativas lindas, inspiradoras, gestualmente harmoniosas, e o espírito de porco que habita entre nós inventou de que o correto seria nos cumprimentarmos com o grosseiro tocar de cotovelos.
É bom lembrar que o cumprimento, que em inglês leva o nome de “Elbow Bump” (batida de cotovelo), não é novo e já foi adotado oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) durante outras epidemias virais, como a gripe aviária em 2006, a gripe suína (2009), a influenza (2012-2013) e o Ebola na África (2014).
A expressão “elbow bump” foi considerada a Palavra do Ano em 2009, pelo New Oxford American Dictionary, dicionário de Inglês Americano compilado por editores americanos da Oxford University Press. Tem, portanto, apenas 11 anos a inclusão do gesto nos dicionários de língua inglesa. Entre lusófonos, ainda não há nem sequer a palavra ou expressão para designar o cumprimento de cotovelos.
Precisamos derrubar essa péssima idéia antes que seja tarde!

Vamos lá: os cotovelos compõem, com os joelhos, as mais feias partes do corpo humano. Dobradiças ortopédicas, nem pra fetiche servem. A criança quando nasce, ainda toda amassada, dela se diz que tem cara de joelho, ou de cotovelo. É essa feiúra que se oferece ao outro, que se cumprimenta.
Os cotovelos, com seu total de 8 centímetros quadrados de pele, são a parte menos sensível de toda a epiderme humana, que pode cobrir um total entre 1,5 e 2 metros quadrados de corpo. Pode-se beliscar o cotovelo, não dói ou dói pouquíssimo, porque tem pouco enervamento. É esse vazio de sensibilidade que toca em outro vazio.
Por fim, cotovelo é arma. Cotovelada pode até matar. Assim, dar e receber o cotovelo à guisa de cumprimento amigável é como cruzar porretes, terçar armas –sinaliza tudo, menos cordialidade. Além do que, trata-se de um gesto feio, a meio caminho de “dar uma banana” para alguém. Entre mulheres, então, é pavoroso.
Isso dito, eu sinceramente quero saber como será a fotografia deste momento que estamos vivendo, na posteridade.
Nas décadas de 1960/70, quem quisesse ser legal tinha de sair de casa e trocar micróbios nas festas mais loucas, com o pessoal mais cabeça, com os meninos e meninas mais lindos, no amor livre, no rock, na tropicália, nos festivais, no saco de dormir, nas praias desertas. Trindade, Trotsky e Leminski.
Em 2020, quem quer ser cool prega o isolamento, fica em casa, trabalha em dobro no home office, está trancado e passa boa parte do tempo deprimido. Ou anda paranoico na rua, de máscara (sem sorrisos e sem beleza), com álcool gel nos bolsos, transtorno obsessivo-compulsivo transmutado em “precaução”. Como corolário dessa miséria, agora diz “Oi” com o cotovelo.
Tem algo muito errado nessa definição de “legal”.
Haja ansiolítico.
Pela volta urgente do Namastê!
Soco no estômago com borboletas lindas. Muito obrigada por sempre esclarecer as loucuras do mundo com tanta leveza, clareza, informação e referências. Namaste mil vezes, laura capriglione
[…] Pandemia: Cumprimentar com o cotovelo é o fim! Viva o Namastê! […]
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Pois bem, tudo que se pega, se pega pela mão e não pelo cotovelo,,ou seja, cumprimentar-se com o cotovelo é mais uma forma de prevenção, porque não deve ter toque de mãos,,cumprimento com punhos fechados é a mesma coisa que aperto de mãos, pois vai ter toques de mãos.