Os pássaros caem em pleno voo | Índia e Paquistão: ondas de calor

Com temperaturas que chegaram a 44 ºC na Índia e 49 ºC no Paquistão, uma onda de calor atinge os dois países em plena primavera

Os pássaros caem em pleno voo. As plantações de manga murcharam suas flores no auge da primavera. Quem pode escolher, reduz suas atividades ao início da manhã e à noite. Mas nem todos podem se preservar da exposição prolongada a altas temperaturas ou dispõem de condições de refrigeração nas suas casas. Há já 90 mortos na Índia e no Paquistão por stress térmico – no entanto, o que preocupa os exportadores da Índia é que a queda na safra de trigo arruinou os planos de aproveitar as condições de exportação resultantes da guerra contra Ucrânia.

Por Silvia Adoue e Tamy Cenamo

Neste ano, a onda de calor, com temperaturas que chegaram aos 44 ºC, atingiu na Índia as maiores temperaturas registradas para o mês de março nos últimos 122 anos. Em abril, em algumas regiões do país, a temperatura quebrou todos os récords. Um bilhão de pessoas na Índia e no Paquistão, onde a temperatura chegou a 49 ºC, estão ameaçadas pelo verão mais quente que esses países sofreram. Trata-se de uma onda de calor não acompanhada por chuva ou umidade.

O grupo de pesquisadores World Weather Attribution aponta que é a primeira vez que um evento climático desta magnitude abrange uma região tão grande. Efeitos imediatos já estão sendo refletidos na agricultura e na saúde pública, mas as consequências de desabastecimento de alimentos e queda dos salários em muitos ramos da economia serão observados nos próximos meses. O rendimento das colheitas caiu em um 35% nas regiões mais afetadas. Também ocorreram inundações geradas pelo desgelo inédito no Norte do Paquistão e incêndios florestais na Índia.

A Índia está recorrendo ao carvão para produzir energia para sistemas de refrigeração. O que, mesmo que diminua os efeitos cotidianos desta onda para quem possui ventiladores e aparelhos de ar condicionado em casa, ou para as empresas que garantem a continuidade da produção refrigerando os trabalhadores, continua contribuindo para a aceleração do aquecimento global.

Desde a era pré-industrial, a temperatura média mundial aumentou em 1,2 graus centígrados. Arpita Mondal, do Instituto Indiano de Tecnologia, aponta para a possibilidade destas ondas se repetirem a cada cinco anos, caso a temperatura média mundial aumente em mais 0,8 graus centígrados, como se calcula para os próximos anos. Mas ainda não conseguimos calcular os efeitos desta onda. Na de 2010, na Índia, calculam-se 800 mortes causadas diretamente por stress térmico e 1300 mortes indiretas. A gravidade não está apenas nas altas temperaturas, mas na persistência delas.

No entanto, esses eventos não se restringem ao sul de Ásia. Em 2021, o Canadá alcançou temperaturas de 50 ºC, provocando mais de cem mortes. Em 2018 e 2019, a Alemanha sofreu temperaturas acima dos 40 ºC. Os acordos internacionais, que pretendiam conter o aquecimento global (da era pré-industrial até agora) a 1,5 ºC, agora simplesmente aumentam a margem para 2 ºC. A aceleração da produção e circulação de mercadorias está na origem desse círculo vicioso que nos fez penetrar neste cone da catástrofe para a nossa e as demais espécies.

1 https://www.worldweatherattribution.org/climate-change-made-devastating-early-heat-in-india-and-pakistan-30-times-more-likely/
2 https://browsenews.es/la-sofocante-india-recurre-al-carbon-sobrecalentado-para-enfriar/

3 https://www.technologyreview.es/s/14266/el-cambio-climatico-esta-empeorando-las-letales-olas-de-calor-de-la-india

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