Obrigada, terremoto

Vibração brusca da superfície da Terra; abalo sísmico que pode durar minutos ou segundos. As definições geológicas podem até ajudar a compreender o apelido de Terremoto, de 25 anos, que foi assassinado a facadas na tarde da última quinta-feira, dia 09 de março, em circunstâncias não esclarecidas.

Nem de longe, porém, essas definições são capazes de dimensionar a força da natureza do jovem fotógrafo Felipe Ary de Souza, o querido Terremoto, que o Brasil acaba de perder. Idealista, compassivo, gentil, amoroso, engraçado e incapaz de desistir de uma pauta, Terremoto personificou a vivacidade da juventude que ocupou as escolas públicas de todo país em 2016.

Em sua primeira reunião com os Jornalistas Livres, ao explicar os protestos motivados pelos planos de fechamento de salas de aula, Terremoto se tornou o responsável pela cobertura do movimento.

Ele não esperava por soluções de engravatados. Pegava o celular, muitas vezes emprestado, e agia: fotos, vídeos, depoimentos de amigos, entrevistas com merendeiras, falas e manifestações de estudantes de escolas das periferias, da juventude do funk e das quebradas. Terremoto fez registros sendo, ele mesmo, um personagem das reportagens.

Não por acaso, aliás, mais de uma vez foi parar na delegacia com os detidos das manifestações. Ele tentava explicar sua narrativa, mas a polícia não acreditava que o jovem negro era um jornalista livre, mesmo quando apresentava suas credenciais do coletivo.

Aos poucos, Terremoto ganhou e adquiriu equipamentos profissionais e passou a trabalhar na área. Fez registros da Casa do Funk, projeto cultural apoiado pela lei de fomento das periferias. Também passou a fazer ensaios para artistas do funk e acompanhou o candidato Bruno Ramos em duas campanhas, nas eleições de 2020 e 2022.

Terremoto jamais se afastou da militância estudantil e passou a registrar os movimentos de moradia, como o MSTC, de Carmen Silva. Ele mesmo ocupante de imóvel no centro de São Paulo, solidariza-se e militava por seus pares. Na Favela do Moinho, era voluntário do Projeto Amparo na cobertura de ações sociais.

A favela, os Jornalistas Livres e os movimentos de moradia choram. Terremoto, em sua brusca e breve passagem, é tragédia que jamais deverá ficar silenciada.

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