O SALDO DA VAZAJATO ATÉ AQUI

 

ARTIGO

Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

 

A política institucional não pára sempre que explode um novo escândalo. Pelo contrário: os corredores do Palácio reagem à novidade e peças se movimentam no xadrez do poder. É exatamente isso que está acontecendo neste exato momento, enquanto todos aguardamos a “bomba” prometida por Glenn Greenwald.

O conteúdo a ser publicado irá mesmo alterar de forma considerável o jogo, dando início a um novo momento na cronologia da crise, ou tudo não passará de uma marolinha?

Por enquanto, só dá pra dizer que a imagem de Sérgio Moro sai chamuscada. É impossível saber com clareza o tamanho do prejuízo, mas, sem dúvida alguma, se trata da maior dificuldade já enfrentada pelo ex-juiz em sua curta e meteórica vida pública.

A agenda negativa envolvendo a imagem do “superministro” da justiça e segurança pública altera o equilíbrio de forças dentro do governo. Essa me parece ser a primeira consequência da Vazajato.

É sempre bom lembrar que o vínculo de Operação Lava Jato, liderada por Sérgio Moro, com Jair Bolsonaro é mais circunstancial do que o orgânico. Ou em outras palavras: a Operação Lava Jato, que desde 2014 atingiu grande sucesso de público e crítica encenando uma jornada de combate à corrupção, não está diretamente vinculada à figura de Bolsonaro.

A Lava Jato se mostrou ao país como uma força externa ao mundo político que o moralizaria de fora pra dentro. Era como se os políticos eleitos pelo voto fossem todos potencialmente corruptos e somente os bacharéis concursados teriam moral ilibada.

Bolsonaro é político profissional há 30 anos.

O encontro entre ele e a Lava Jato se deu no segundo turno das eleições presidenciais de 2018, quando o bolsonarismo nasceu como fenômeno político capaz de mobilizar as ruas.

O lavajatismo é anterior ao bolsonarismo, talvez seja uma de suas condições de existência.

Diante da possibilidade do retorno do PT ao governo, a Lava Jato escolheu um lado entre as possibilidades dadas pela realidade eleitoral, como mostra claramente o material já vazado pelo Intercept.

A Lava Jato fortaleceu a candidatura de Bolsonaro tendo a promessa de que faria parte do novo governo. Há quem aposte que uma das novidades a ser revelada por Greenwald é o convite de Bolsonaro a Sérgio Moro sendo feito ainda durante as eleições. Ainda não seria essa a bomba tão esperada. Todos desconfiamos de que o convite foi feito antes do resultado das eleições. Ver a prova manifestada em conversa de aplicativo não será a maior das novidades.

Seja como for, fato mesmo é que Moro chegou agigantado à esplanada dos ministérios, laureado pela mídia e com grande apoio popular. Por outro lado, Bolsonaro enfrentava a resistência dos mais poderosos veículos da imprensa e a rejeição convicta de, pelo menos, 30% da população, além de ter que lidar com escândalos envolvendo milícias, funcionários laranjas e lavagem de dinheiro.

Naquele momento, sem dúvida nenhuma, Moro era maior que Bolsonaro, talvez fosse seu único rival, já que Lula estava, e está, preso. Moro era aquele tipo de funcionário que nenhum chefe gosta de ter: o que não pode ser demitido.

E Moro ainda tinha o controle da PF e do COAF, que poderiam ser bastante úteis caso fosse necessário mostrar ao país as travessuras da família presidencial.

Definitivamente, o jogo virou.

A Vazajato atinge Moro em cheio e, por enquanto, nem rela em Bolsonaro. Pelo contrário: enquanto aguardamos o próximo vazamento, esquecemos de Queirós, de Flavinho, dos 13 milhões de desempregados e dos cortes na educação.

Em um momento de grandes dificuldades, o presidente saiu dos holofotes. Bom pra ele.

Agora, é Moro a vidraça, é quem precisa de apoio. E Bolsonaro demorou para se manifestar. Esperou para ver a repercussão dos vazamentos, valorizou seu apoio na cotação do mercado político.

Depois de algumas palavras tímidas, Bolsonaro veio finalmente a público defender seu ministro, almoçou com ele, lhe levou pelo braço a um estádio de futebol, onde Moro assistiu o jogo vestindo terno e gravata, desconfortável naquele que não é seu habitat natural.

Moro não é nada carismático. É homem de gabinete. Prefere conspirar nas sombras a enfrentar a imprevisibilidade do palanque. Não tem nenhuma vocação para a performance populista.

No Estádio Mané Garrincha, assistindo ao jogo do time de futebol mais popular do Brasil, Bolsonaro mostrou-se ao lado de Moro em camarote devassado. Mediu a opinião pública e avaliou que o estrago não é grande e que vale investir capital político na defesa do ministro. Moro agradeceu, com sorriso amarelo, vestindo sem jeito uma camisa do Flamengo e se deixando abraçar pelo presidente.

Bolsonaro pediu para um torcedor lhe atirar uma camisa do Flamengo, gritando com animação: “É pra ele vestir, é pra ele vestir!”. Bolsonaro assumiu a narrativa. Foi aplaudido.

Hoje, Moro não é mais funcionário indemissível.

Mesmo que amanhã vaze material mostrando que Bolsonaro convidou Moro para ser ministro antes do fim das eleições, não será o presidente o principal prejudicado. Bolsonaro é político, na época era candidato em campanha. Moro era o juiz que aceitou o convite.

Moro tem muito a perder com isso tudo. Bolsonaro nem tanto.

Ao expor Moro, a Vazajato, indiretamente, fortaleceu Bolsonaro.

O presidente parece ter entendido o recado, a ponto de tomar coragem para demitir, em 13 de junho, Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo e uma das principais lideranças do núcleo militar do governo.

General condecorado, internacionalmente respeitado. Santos Cruz é discreto, um homem das instituições e vinha sendo voz contrária à radicalização ideológica promovida pelo núcleo olavista. Foi alvo de ataques, do fogo nada amigo disparado por Carluxo e pelo próprio guru da Virgínia.

Ao demitir Santos Cruz, Bolsonaro fez um gesto de radicalização ideológica, mostrando que a moderação no tom demonstrada nas últimas semanas e o afastamento de Olavo de Carvalho das decisões do governo não passavam de encenação.

Lula ainda está preso, Moro apanhando igual boi bandido e Bolsonaro à vontade para radicalizar ainda mais à direita. Até agora, é este o saldo da Vazajato.

Até agora.

 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

COMENTÁRIOS

4 respostas

  1. Dar a conta dos 13 milhões de desempregados para Bolsonaro pagar, chega a ser ridículo.
    Professor de História de que ???
    Vai ensinar “fezes” para os seus alunos ???
    Não sabe então que os mais de 15 milhões de desempregados foram HERDADOS do governo PT ???
    Faça-me um favor sr. professor, vá prá “tonga da milonga do caburetê” !!!

  2. Vcs deviam alterar o nome pra :
    Jornalistas Lula livres.

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