O rabo do camarão, por Dirce Waltrick do Amarante. Imagem: Jeff Koons

Mas não tive sorte, ele acabou na boca de um jovem (depois soube que era um deputado). O bicho devia estar tão bom que ele chupou até o seu rabinho. Só sobrou uma carcaça espremida, que o jovem embrulhou no guardanapo e jogou discretamente no chão.
Jeff Koons - Losbter

O rabo do camarão

Por Dirce Waltrick do Amarante*

Minha primeira festa como garçom foi em Brasília. Celebravam-se os 200 mil mortos pela Covid 19… Não, me enganei, celebravam-se os 14 milhões de desempregados… Não?

Vou começar de novo: fui contratado para trabalhar numa festa em Brasília, não sei ao certo o que celebravam.

Tudo ia bem quando, de repente, na bandeja de um colega, passou um camarão com a cabeça enfiada no creme de um canapé e o rabo pontudo e comprido para cima. Salivei!  

Eu precisava alcançar aquele crustáceo antes que fosse parar na boca de alguém. Mas não tive sorte, ele acabou na boca de um jovem (depois soube que era um deputado). O bicho devia estar tão bom que ele chupou até o seu rabinho. Só sobrou uma carcaça espremida, que o jovem embrulhou no guardanapo e jogou discretamente no chão.  

Logo depois disso, fui preso.

Ocorre que juntei o camarão do chão, só não sabia que, acidentalmente, o deputado o havia embrulhado não em um guardanapo, mas numa nota de 200 reais, da qual logo sentiu falta e, ao me ver com ela na mão (eu não queria a nota, só queria chupar o camarão), chamou a polícia.

Fiquei tão nervoso que, por um momento, tirei a máscara para beber um gole d’água.

Um mês depois, metade dos convidados pegou Covid, alguns morreram.

Fui acusado, então, pelo furto de 200 reais e pela morte dos convivas, afinal fui o único a tirar a máscara na festa, a grã-finagem nem máscara usava.

Conclusão da história: o problema é mesmo usar a máscara.

*Voltando no dia D e na hora H.

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