O Povo Que Não Pode Plantar

É sexta-feira e sigo com meu amigo Jekupe, escritor indígena, ao encontro de seu povo, Guarani M’byá,  para protesto na cidade de São Vicente, a matriarca urbana do país, em seus 484 anos de ruas e casas. Sei que quem tem coração no mar, nas águas, na mata e na terra, também sabe jogar sua dor na avenida. A solidão dos povos indígenas irá à praia e mais que choro, tal um pirata chegando à velha cidade, protesta com canto e dança, o jeito índio de se manifestar.

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Os povos indígenas do Brasil, como toda sociedade nesse momento, estão também em movimento. É longa a lista de solicitações e evidentes certos direitos renegados. O direito à terra, novamente, precisa ser escancarado.

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Chego às Terras indígenas de Paranapuã, dentro da Reserva Xixová, onde índios são acusados de serem responsáveis pela degradação ambiental. Surreal alegação. A região da Bacia de Santos tem sido notada e assolada por ocorrências de acidentes ambientais associados ao comércio e translado de produtos químicos. Acusar índios de degradação ambiental é no mínimo uma farsa.

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Cerca de 100 índios vivem na Tekoa Paranapuã. Noto que a comunidade carece de roça, aventurando-se apenas com alguns poucos pés de cana, banana e açaí, entre a vegetação densa. O cuidado com as orquídeas e flores da mata atlântica também é notável. Casas muito simples, e um vazio de escola ou posto de saúde evidencia a ausência do Estado. Em vez de assistir, aqui o Estado prefere expurgar.

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Os Guarani tem por nome a sentinela e a terra livre, e nesse momento a aldeia, entre toda carestia, é toda força e alvoroço. Caciques se reúnem, mulheres e homens se pintam e se adornam, crianças cantam, arcos e bordunas se aprumam. Na casa de reza, Opy, entre a fumaça dos pitynguas, cachimbos tradicionais, as lideranças comunicam a todos o motivo do protesto e como proceder. Cantam e dançam pedindo a Nhanderu, Deus, a proteção.

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É uma sexta-feira de janeiro, índios saem da mata, transpassam a ponte pênsil, ocupam a avenida beira mar e seus marcos, se misturam na rua em dia de aniversário e feriado na cidade mais antiga  e protestam. Uma certa poesia invade a rua, apesar da dor e das necessidades, como quando antes não havia cidade.

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Reintegração de posse é frase insana.

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