O povo e as ruas no 29 de maio: o #ForaBolsonaro está na cabeça de quem trabalha?

Por Agatha Azevedo e Leonardo Koury

A luta pelo Fora Bolsonaro se tornou a notícia mais acessada em todo o mundo, não apenas no Twitter e em outras redes sociais. Os atos do dia 29 de maio foram organizados em 213 cidades brasileiras e em 14 cidades no exterior. As 1.828.048 publicações e os 841 mil retuites colocaram a coragem de sair às ruas frente à Pandemia do COVID-19 como uma responsabilidade global.

Pela primeira vez durante a pandemia, as Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo e diversas organizações coloriram as cidades muito além das bandeiras partidárias, dos sindicatos, dos movimentos sociais e do movimento estudantil. Foi possível observar também o apoio nas ruas de torcidas de futebol, de emocionantes manifestações nas janelas e dos sorrisos dos trabalhadores e das trabalhadoras, que, através das máscaras, expressavam no olhar o apoio à movimentação que pedia por vacina e comida para a população.

A importância do compromisso coletivo na construção de um país melhor, trouxe no último sábado um dia de coração aquecido, alimento para a esperança de um futuro sem Bolsonaro. Um futuro construído pelas mãos do povo brasileiro, nos trajetos dos atos e na força das redes sociais, no medo de não morrer de fome ou do vírus.

E como está este sentimento na cabeça de quem trabalha? Da classe a que pertencemos? A pandemia parece intensificar ainda mais as contradições, já que ao falarmos de isolamento social, excluímos os profissionais das áreas essenciais, os autônomos e, ainda mais, os milhões de desempregados. Para além do compromisso de continuar alimentando os sonhos para superar o medo, quem anda de transporte público todos os dias para seguir gerando renda e colocando comida na mesa dá sinais de que a luta é a única forma de transformação em nossa sociedade.

Foto: Lucas Bois

Levistky e Ziblatt, no famoso livro ‘Como as democracias morrem’, de 2018, apontam a polarização extrema como um dos fatores que enfraquecem as normas democráticas, dentre elas a tolerância mútua entre adversários políticos e a ruptura destas chamadas “grades de proteção” da democracia leva a desintegração de órgãos e poderes que iriam contra os interesses de um governo autoritário. Os ataques diretos do governo aos adversários políticos, tidos como inimigos, escancaram um descaso com a crise de Covid-19, que deveria ser prioritária, já que envolve salvar vidas. 

Para Mounk (2018), um governo autoritário pode causar estragos quatro vezes mais difíceis de serem revertidos.  No livro “O povo contra a democracia: Por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la”, o autor traz questionamentos sobre as relações entre as crises e os governos autoritários. Tendo em vista que a forma como um governo pensa a sua economia está relacionada com o mercado que lhe interessa, é possível ver um alinhamento de Bolsonaro com setores da elite na forma como seu governo tem lidado com questões de saúde, meio ambiente, educação, entre outras. Diante desta reflexão, fica o questionamento: dentro de uma democracia, há brechas para que um governo siga no poder desconsiderando questões ambientais e de saúde pública? 

Em todos os lugares, a sociedade dá sinais de que não é possível que Bolsonaro se mantenha no poder. É uma questão de sobrevivência. Nos comércios, nas casas, nos ônibus, e em todos os lugares, as pessoas sentem a indignação pelos mortos da pandemia, vítimas da inconsequência do governo genocida de Jair Bolsonaro. Contudo, só a luta popular oferece outro caminho. Os atos do dia 29 de maio ecoam a coragem do povo brasileiro, que não está apenas na ação de ir às ruas, mas de saber que este país não é feito somente de autoritarismo, e a narrativa genocida não é sua única voz. 

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