Lamento no cerrado, ninguém canta no campo em brasa, a seriema corre em seus largos passos e os cervos pulam longe. Nem o tamanduá dá seu abraço, é tempo de perna pra que te quero. Tudo migra e o fogo serve de farol. Há certos momentos na vida em que a única atitude possível é a correria. Olha-se para o horizonte e o que comunica agora é um espírito que rola no vento e consome, fumaça que paira e os amarelos, em noite triste, como velas em sala de milagres suplicando guarda.
Ah, os Veadeiros, local de pouso de naves interplanetárias, o disco, os profetas, a vida selvagem. Tudo o fogo colorido ameaça em sua brasa, come tal um carcinoma a pele da crosta. Crime, rebeldia, raios do céu? O que conta aqui não é a culpa, mas a ação de combate. A guerra aqui não é para bombas, mas abafadores e água de chuva que se ausenta.
O fogo vai rasgando todos os cenários, de valentia se faz a mão que apaga e pede chuva com fé. Quase todos pretos, no terreiro de carvão e cinzas a tingir pele e olhares; a guerra tem suas cores. A solidão selvagem do fogo assina na terra seu nome seco, no pó faz uma literatura ácida, incide na alma da gente dando uma sede funda de nuvens. O céu, tão grande é o céu do cerrado e cada gente sua em desventura. Aqui dizem que tudo é sagrado e errante o fogo alerta na terra aberta: a Terra.
Imagens de Maxwell Vilela, enviado especial Jornalistas Livres.