Por Renê Gardim
Enquanto os brasileiros continuam pagando muito caro pelo quilo da carne bovina, pecuaristas e frigoríficos reduziram os abates nos últimos meses. Com isso, os preços, que tiveram quedas em setembro e outubro devido ao embargo da China ao produto brasileiro por suspeita de um caso de vaca louca no país, voltaram a subir no atacado em novembro, com o aumento de vendas aos países da Ásia e do Oriente Médio, e por problemas sanitários na África do Sul e México.
As informações estão disponíveis no site do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com o estudo Agromensal Boi da instituição, “o Brasil, sendo o segundo maior produtor dessa commodity, aumentou os embarques em 2020 e desde então vem enfrentado restrição na oferta de animais”. O relatório ainda lembra que “com a demanda mundial maior que a oferta, os preços internacionais têm sofrido movimentos de alta, com novo ciclo observado desde maio de 2021”.
Diante desta realidade vivida pelos brasileiros e confirmada pelo Cepea, as carnes (bovina, suína e de frangos), no mercado brasileiro, tiveram comportamento diverso de preços no terceiro trimestre. A carne de frango teve alta, pois o consumidor foi obrigado a buscar carnes mais baratas. O ovo e o leite tiveram o mesmo destino.
Já a arroba do boi teve média estável na comparação com o segundo trimestre do ano. Em agosto, os preços para o produtor continuaram elevados. Mas, em setembro e outubro, sofreram queda, segundo o Cepea, devido à suspensão dos envios de carne para a China.
Ou seja, os pecuaristas preferem manter o boi no pasto em vez de abastecer o mercado interno, pois isso representaria queda no preço tanto no atacado quanto no varejo. O relatório prossegue: “Além da disponibilidade enxuta de animais – evidenciada por dados oficiais que indicam redução no volume de animais abatidos no Brasil em 2021 –, muitos pecuaristas que ainda detinham lotes de boi prontos para abate em novembro seguraram estes animais nos pastos”.
Agora em dezembro, mesmo com o consumo baixo de carne de boi devido aos altos preços, os frigoríficos voltam a abater com vistas às festas de fim de ano, quando a procura por carne volta a aquecer no atacado. Nestes casos, apesar dos elevados custos de produção relacionados à ração, as recentes chuvas favoreceram a recuperação das pastagens na maior parte das regiões pecuárias.
Do lado da demanda, parte dos frigoríficos elevou, ainda que pontualmente, as compras de novos lotes, no intuito de formar estoques para as vendas de final de ano – quando a procura por carne no atacado geralmente se aquece.
Enquanto isso, as manchetes da imprensa continuam se multiplicando: “Famílias comem lagartos e restos de carne para enganar fome no RN”; “Com a pandemia, apenas 1 em cada 4 crianças da Atenção Básica realiza, ao menos, as três principais refeições do dia”; “Caminhão de ossos no Rio é disputado por população com fome”; “Fome no Brasil: Crianças com fome comem gambás no RJ”; “FAO: auxílio emergencial não estanca fome e crise atinge 24% da população”.
Os títulos acima são de matérias publicadas pela mídia nacional há poucas semanas. Já o relatório do Cepea é mais recente. E comparando essas informações vemos que o Agro é Tech, o Agro é Pop e o Agro é Tudo, não passa de marketing, pois, além de não ser realmente nada disso, o Agro não tem foco no abastecimento do mercado interno. O que realmente interessa é o lucro apenas. E a população que pague (ou não) por isso.