O fotógrafo João Roberto Ripper e o universo das/dos apanhadoras/es de sempre-vivas

Ensaio: Projeto Futuro do Presente #150 – João Roberto Ripper: As/Os Apanhadoras/es de Flores Sempre-Vivas: A Vida nas Campinas
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Os apanhadores de flores sempre‐vivas, como se autodenominam, habitam a porção meridional da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, região que se estende por pelo menos 15 municípios nos arredores da cidade de Diamantina. A tradicional coleta das flores sempre‐vivas é fonte de renda fundamental para a reprodução sociocultural de tais famílias. Há cerca de 90 espécies manejadas de sempre-vivas, flores que recebem essa denominação popular porque depois de colhidas e secas conservam sua forma e coloração por décadas.

Geralmente, as moradias das famílias encontram‐se agrupadas em comunidades próximas aos campos de coleta, comumente reconhecidos como terras de uso comum das famílias em que o parentesco permeia as relações de acesso e uso dos campos. É comum as famílias permanecerem por longas jornadas sobre os campos na época da seca para a coleta de flores, manejo do gado rústico e de animais de carga, quando habitam “lapas” (grutas nas formações rochosas) e “ranchos”. Já na época das chuvas, as famílias praticam agricultura tradicional próximo às casas para consumo familiar e a abundância de água é ressaltada pelos moradores como importante riqueza e patrimônio herdado. Há ainda quintais ao redor das moradias, com gêneros alimentícios variados, criação de pequenos animais e uma rica cultura alimentar.

Não é de hoje que os apanhadores de flores lutam pelo seu reconhecimento cultural e econômico, demandando o direito de acesso aos recursos dos quais dependem para manter seu modo de vida tradicional. Contra eles está em curso um processo de desterritorialização, caracterizado pela criação de parques naturais e pela instalação de empresas mineradoras e monocultoras de eucalipto. Para dar conta da tarefa, as comunidades de apanhadores de flores estão organizadas na Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas-Apanhadoras de Flores (CODECEX), entidade empenhada na regularização dos territórios tradicionais e descriminalização da coleta e comercialização das flores sempre‐vivas, como forma de viabilizar a manutenção do modo de vida e a geração de renda das famílias vinculadas a esses produtos, contribuindo ainda para a conservação da rica sociobiodiversidade brasileira e para o patrimônio agrícola de importância mundial!

Texto: Fernanda Monteiro

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João Roberto Ripper: As/Os Apanhadoras/es de Flores Sempre-Vivas: A Vida nas Campinas

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Populações Tradicionais de apanhadores de flores Sempre Vivas situadas na Serra do Espinhaço em Diamantina, Minas Gerais. Populações atingidas pela implantação do Parque Nacional das Sempre Vivas. São quilombolas reconhecidos pela Fundação Palmares e lutam pela demarcação territorial e pela recategorização do Parque Nacional das Sempre Vivas para uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) que permite a manutenção do modo de vida tradicional. Além de apanhar flores praticam agricultura e pecuárias tradicionais.

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Minibio João Roberto Ripper

Nascido em 1953, no Rio de Janeiro, João Roberto Ripper trabalhou como repórter-fotográfico dos seguintes jornais e agências fotográficas: Luta Democrática, Diário de Notícias, Última Hora, O Globo, Agência F4 e Imagens da Terra.

Atuou como diretor na Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro, no Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro e na Federação Nacional dos Jornalistas. Foi coordenador das campanhas pela obrigatoriedade do crédito na fotografia e contratos de direito autoral e o responsável pela criação e implantação das tabelas de preços mínimos. Idealizador e coordenador do Projeto Imagens do Povo do Observatório de Favelas.

Publicou, em 2009, o livro “Imagens Humanas”, que apresenta 195 fotos, algumas inéditas, selecionadas a partir de um acervo de 150 mil imagens, que arrebatam o olhar e traduzem a realidade desse país, com a sensibilidade que legitima o trabalho do mestre Ripper. O livro apresenta ainda uma entrevista exclusiva com Ripper, que é referência no cenário da fotografia documental brasileira.

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Para conhecer mais o trabalho do artista

https://www.ateliedaimagem.com.br/docente/joao-roberto-ripper/

https://www.instagram.com/joao_ripper/

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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, recriar seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, de quintal, de rua, documentação desses dias de novas relações, essenciais, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente. Um universo.

Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. João Ripper é um dos anjos que conheci na vida, daqueles que além das asas carrega objetivas e engenhocas, tanto andamos. Grato, Sato.

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