Há 4 anos esperávamos por esta vitória. Foram 1.460 dias sofridíssimos. Vivemos um a um desses dias suando e sangrando nas ladeiras e vielas do país, no campo e na cidade, na beira das águas. Sabíamos, naquele 28 de outubro de 2018, quando o capitão se elegeu, ajudado por uma facada, que o Brasil pioraria muito.
Mas ninguém podia prever 4 anos sem reajuste salarial; 33 milhões de famintos; um mercado de armas florescendo em cada canto; a Amazônia derrubada por criminosos que agiram livremente, sob o impulso do governo; garimpeiros cavando profundas cavernas e engolindo indígenas, desequilibrando a fauna, a flora, a saúde dos rios; 690 mil pessoas morrendo de covid-19 sob o escárnio e o riso do presidente.
E ainda uma acintosa operação de desmonte dos direitos que as mulheres conquistaram em heroicas batalhas.
Ninguém esperava um período tão sangrento e nefasto, o fim da conversa em família, contendas, disputas e rachas traumáticos que apartaram pais e filhos, tios, sobrinho, netos, amigos.
Nós merecíamos Lula de volta!
Precisávamos acordar deste pesadelo estranho, que alargou o racismo, fez preto valer menos, pisoteou gays, lésbicas e trans, ampliou a aversão à religião dos outros, puniu mulheres que sustentam sozinhas as suas casas – porque elas perderam o apoio do Estado.
É mentira que o feminicídio diminuiu. É mentira! Não merecíamos chorar tantas mulheres sendo mortas, resultado de um número maior de armas em casa.
Precisávamos ver Lula chegando ao Palácio do Planalto, de onde arrancaram Dilma à força, em um processo violento, misógino e traiçoeiro.
Precisávamos ver Lula iniciar uma nova era. Precisávamos!
Não há ilusão, ao contrário, há enorme certeza de que será difícil tirar o país dos escombros. A reconstrução nos custará muita luta e esforço.
Mas a esperança tem lastros profundos. Um homem que sai de uma prisão injusta, forjada, que lhe custou 580 dias de solidão e ainda consegue voltar para o jogo político com lucidez, sanidade, entusiasmo e crença nos brasileiros é um belíssimo sinal de que vamos conseguir.
É necessário olhar também para o povo que não desistiu, abraçou Lula e, agora, o está levando no colo até o poder central do país. A energia deste 30 de outubro é restauradora e curativa. Bora aproveitar o novo dia!