O bem que se colhe e o mal que se planta

milho vermelho

 

 

Comi comida de índio e seu gosto era puro, de terra limpa. Indago se é a língua ou a mão do homem que colhe e planta entre a mata, fazendo da vontade a fome vencida, seu sabor. Algo rompeu o elo de corrente ou nó de corda, na necessidade diária de alimento, quando o mercado invadiu o campo e as grandes lavouras ocuparam a paisagem, a monocultura de latifúndios.

Já não é mais o pé de banana, a mandioca, o pé de milho e uns ramos de coentro que importam aos labores da terra. Os poucos homens do campo que mandam e definem os rumos da agricultura, querem tudo que  podem colher e fazer renda, produzir milhões de toneladas e abastecer o mercado do mundo. Agro é a indústria da riqueza para quem, pergunta minha aorta.

Todos têm fome, e saúde plena depende de alimento limpo, por mais que neguem ou inventem remédios e novos arranjos genéticos. Denomina-se ingestão diária aceitável (IDA) o veneno que ingerimos dia a dia, e consentido pela agência nacional de vigilância.

 

 

Mulheres indígenas Kawaiweté removem a terra limpa sobre o forno de pedras quentes, onde por horas assaram as batatas doces, colhidas na roça entre as matas da Terra Indígena do Xingu.

 

É a vitória da insanidade. Milhões de abelhas morrem todos os dias ou outros tantos milhões de insetos são exterminados, anunciando a vida em desequilíbrio. 

Os consumidores, em lugares incertos no futuro, não terão meio ambiente algum e a natureza selvagem que nos resta será conhecida nas velhas fotografias. A fome será sanada pela Basf, Bayer, Dow, Dupont, Monsanto e Syngenta, os cavaleiros do apocalipse. Envolvem os alimentos com herbicidas, pesticidas, hormônios e adubos químicos. Expõem a humanidade aos danos da contaminação, engordam contas bancárias, enquanto a humanidade, vulnerável, adoece. Nos dão o ovo da serpente.

 

 

O Brasil é o maior importador de agrotóxicos do planeta e permite o consumo de substâncias que já são proibidas em vários países e banidas de seus ares e cursos d’água.  Superávits exterminam o cerrado, engolem a Amazônia. 

 

 

Há novas concessões permitidas pelo novo governo, venenos possíveis ao abismo de nossos pés, tão desejáveis aos negócios do agro sob nova direção.

Por mais absurdo que seja nesse momento e assunto, recordo-me de Cartola, quando falava do amor e que o mundo é um moinho, aquilo que quando notarmos estaremos à beira do abismo. 

Querida natureza reduzida a pó, em pouco tempo não serás mais o que és.

 

 

*imagens por Helio Carlos Mello©

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