Novos dados sobre ato “Fora Dilma” expõem opiniões dos manifestantes

Segundo a pesquisa, mais de metade acha que o PCC é um braço armado do PT e outros 42% concordam que o partido trouxe 50 mil haitianos para votar em Dilma

As mobilizações contra a presidenta Dilma Roussef (PT) voltaram à Avenida Paulista. A onda verde e amarela esteve nas ruas, mais uma vez, no último domingo (12). Apesar de reduzida, a manifestação somou 100 mil cabeças, segundo o DataFolha.O perfil dos manifestantes não mudou: predominância da elite e forte presença da classe média; alto grau de escolaridade e faixa etária acima de 36 anos.

Nessa terça-feira (14), novos dados, coletados em pesquisa coordenada pelo professor da USP, Pablo Ortellado, e Esther Solano, da Unifesp, trouxeram a tona uma classificação mais detalhada daqueles que estiveram na Avenida Paulista no último domingo. Confira a pesquisa.

Após as mobilizações do dia 15, Otellado, em entrevista à Vaidapé, já havia sinalizado para a homogeneidade dos atos e da predominância da classe média alta.

O professor também apontou para o isolamento político da presidenta Dilma Rousseff: “Se os grupos de direita conseguirem consolidar esse nível de mobilização, que é o esforço deles, ela vai estar em uma situação muito mais difícil do que a do Maduro, por exemplo. Porque, se você olhar, o Maduro está em uma situação extremamente polarizada, mas com apoio da esquerda e dos grupos populares. Ela está perdendo as duas coisas.”

Pesquisa

A pesquisa buscou novas informações que elucidam o perfil dos manifestantes. Foram levantadas questões como a confiança em partidos, movimentos sociais, comentaristas políticos e veículos da imprensa, além de opiniões sobre programas governamentais.

Os dados apontam para um claro descontentamento com as atuais legendas. Mais de 98% dos manifestantes disseram confiar pouco ou nada nos partidos políticos.

O PT e o PMDB tiveram grande reprovação: 96% e 81,8%, respectivamente, não confiam nos dois gigantes do planalto central. Já o PSDB se destacou como o partido que gera menos desconfiança — apesar de o número ainda ser alto. Dos perguntados, 47,6% não confiam nos tucanos, menor número entre os partidos levantados na pesquisa.

Único partido da Câmara sem ligação com as empreiteiras investigadas na Lava Jato, o PSOL, não passou despercebido e pouco mais de 93% dos entrevistados afirmaram não confiar ou confiar pouco na legenda.

A maioria dos manifestantes também se dizem contrários às cotas em universidades e ao Bolsa Família. 60,4% acham que o programa iniciado na gestão do ex-presidente Lula (PT) só financia preguiçosos. Apesar de 77,4% dos entrevistados se dizerem brancos, 70,9% acreditam que a implementação do programa de cotas gera mais racismo.

Algumas suposições mais delirantes também reinaram no ato na Avenida Paulista: 53,20% vêem o PCC como um braço armado do PT e outros 42,6% concordam que o Partido dos Trabalhadores trouxe 50 mil haitianos para votar na presidenta Dilma Rousseff nas últimas eleições.

O levantamento também apontou o blogueiro da Veja, Reinaldo Azevedo, e a apresentadora, Raquel Sherazade, como os comentaristas políticos que passam mais confiança aos manifestantes, sendo que 39,6% disse confiar muito em Azevedo e 49,4% em Sherazade.

Apesar da forte cobertura às movimentações nos últimos atos, a aprovação da imprensa foi baixa. Enquanto 21% confia muito nos veículos, 78,6% dos entrevistados disseram confiar pouco ou nada.

Os veículos de mais confiança foram a Veja e o Estado de S. Paulo. Respectivamente, 51,8% e 40,2% dos entrevistados afirmaram confiar muito nas duas mídias. Outros, como a Carta Capital, ficaram no esquecimento: 30,7% disseram nem conhecer a revista.

A pesquisa foi feita com base em 571 entrevistados por toda a extensão da Avenida Paulista, entre às 13h30 e 17h30 do último domingo. A margem de erro é de 2,1%.

Força Política

Para Ortellado a queda no número de manifestante não significa um fracasso dos protestos anti-governo. “100 mil pessoas na Paulista é o dobro do que a esquerda tem conseguido colocar na rua, quando se une e quando se esforça”, afirmou o professor em seu perfil do Facebook.

No contexto do último ato, o coordenador da pesquisa já havia apontado a força política da mobilização: “Se eu tenho 200 mil pessoas de classe média mobilizadas na rua, isso é extremamente assustador. Porque elas são muito mais poderosas do que 200 mil trabalhadores. São pessoas que tem acesso a recursos, tem influência política. Isso não é uma fraqueza, isso é uma força do ponto de vista político”.

 

 

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