Novamente a deflação não favorece os mais pobres

Leite, legumes, frutas e feijão estão entre os itens que pesaram no bolso dos brasileiros pobres
Alimentos continuam caros foto: reprodução/ Getty Images
Alimentos continuam caros foto: reprodução/ Getty Images

Novamente o país viu a prévia do índice oficial de preços registrar deflação. Desta vez em agosto, quando houve uma queda de 0,71%. Energia elétrica (-20,12%), etanol (-19,20%) e gasolina (-14,91%). Mas o leite longa vida (79,79%), o diesel (37,28%) e itens de alimentação (como legumes, frutas e feijão) estão entre os que mais pesaram no bolso do brasileiro de janeiro a agosto deste ano, de acordo com o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo 15) de agosto, indicador conhecido como prévia da inflação.

Por Renê Gardim (*)

Alguns produtos alimentícios sazonais (que têm variação dependendo da época do ano e da colheita da safra) aparecem com aumentos menores, na comparação com meses anteriores. Mas continuam subindo. A carne é um desses produtos. Como gostam de afirmar os economistas, os alimentos estão em um novo patamar de preço e não voltarão a ter o mesmo valor de quando ainda vivíamos com inflação baixa.

Portanto, que ninguém se iluda. A deflação registrada em julho, e agora provavelmente em agosto, não se repetirá. Os preços continuarão subindo, talvez (e apenas talvez) em níveis um pouco menores que os do início deste ano. Não há nenhuma ação efetiva para conter esse avanço.

Essa redução nos preços dos dois combustíveis para veículos de passeio é provisória. Há quem aposte que os governos estaduais e o federal não terão coragem de retomar a cobrança dos impostos sobre a gasolina depois de 31 de dezembro, quando a obrigatoriedade imposta por legislação fez com que estados e União diminuíssem os percentuais sobre esse produto.

Uma situação dramática se a atual política social de mitigação da pobreza, o Auxílio Brasil turbinado numa estratégia eleitoreira do atual presidente da República, e que só tem sobrevida prevista para dezembro, não tiver continuidade no futuro governo, que toma posse em 1º de janeiro de 2023.

Não adianta festejar a deflação se a queda nos preços está distante da população que mais precisa. São as milhões de pessoas que passam fome Brasil a fora. E estas estão distantes desse país que festeja os preços mais baixos da gasolina.

(*) Jornalista há 37 anos, atuou na Folha de Londrina, Jornal de Londrina e RBS. Foi editor de economia e agronegócio no DCI. Contato pelo e-mail [email protected]

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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