Nosso corpo é político

Por Anderson Moraes

O Rio de Janeiro dos poetas, das negras, do samba, do sol e do Cristo Redentor, chora e não pelo título do Flamengo ou pelo desfile da Mangueira, é por tristeza, por descaso e pelo genocídio.

O som do baile funk foi abafado com mais de 80 tiros que atravessa mais que a carne e ataca a alma e a dignidade humana. Ele afronta aa vida e faz sangrar o coração da mãe, da filha, dos amigos e da sociedade que desce do morro muitas vezes para respirar, pois não aguenta mais o “esculacho”, mas por que ainda se mata, humilha e destrata tantos negros?

Existem pesquisas, teóricos, textões e passeatas, mas o que faz um corpo negro ainda sofrer é que diferente de um partidário politico ou de um torcedor de time de futebol a população negra não pode deixar de vestir seu manto chamado “pele preta”.

Um corpo que é motivo de fetiche, mas que vale muito pouco para uma sociedade racista que não respeita nossa existência e a trata como algo supérfluo.

Como explicar uma cidade como o Rio de Janeiro tenha que conviver com períodos de chuvas com medo e apreensão? A população está sobre chuva de balas e água que inunda a casa, a alma e a carne.

Marielle não voltou para seu lar, então não está presente, assim como a família que foi assassinada pelo exército, com *80 TIROS*!

Qual a pessoa preta que não conhece alguém que está presa injustamente? Sabe de um preto que apanhou ou tomou esculacho da PM sem motivo? perdeu amigo assassinado? Quantos não viram a mulher branca segurar a bolsa quando vê um negro ou teve que explicar porque seu cabelo não é ruim?

Dizem que o mundo é fruto de evolução. Esperamos isso a mais de 500 anos! Precisamos trazer este assunto com maior amplitude para além das bolhas de quem vai para passeata e vai em passeata nos mesmos locais centrais. A população da quebrada/favela/periferia precisa ser ouvida e juntos/juntas construímos uma rede de proteção, dialogo e afeto em nível nacional. Respeitando as diferenças, de quebradas, políticas e visões de mundo.

Um ponto é a necessidade de candidaturas pretas comprometidas com a causa negra, como já faz Leci Brandão, Paulo Renato Paim, Vicentino, Erica Malunguinho. Mas precisamos de muito mais. Precisamos pintar de preto e em especial de pretas nossa política. Pois somente assim as políticas públicas serão aos montes voltados para o corpo politico negro(a) que hoje adoece, sofre e chore e morre.

Chuva cai lá fora e aumenta o ritmo Sozinho, eu sou agora o meu inimigo íntimo…

Lembranças más vêm, pensamentos bons vai. Me ajude, sozinho eu penso merda pra carai…
Gente que acredito, gosto e admiro… Brigava por justiça e paz, levou tiro:  Malcolm X, Ghandi, Lennon, Marvin Gaye, Che Guevara, 2pac, Bob Marley e o evangélico Martin Luther King” – Racionais MCs

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