Na última terça-feira, 4/5, o Brasil perdeu um grande artista para a Covid-19. Paulo Gustavo, que ficou famoso por sua atuação como “dona Hermínia”, com o espetáculo “Minha Mãe É Uma Peça”, era ator, roteirista e produtor. Um dos melhores humoristas do país da últimas décadas, foi recorde de bilheteira no teatro e no cinema.
Apaixonado por Niterói, onde nasceu e foi criado, Paulo Gustavo sempre exaltou a cidade em suas obras. A população, então, resolveu homenageá-lo mudando o nome da rua Moreira César para rua Ator Paulo Gustavo. A rua fica no bairro de Icaraí, onde o astista cresceu, e abriga diversos comércios e edifícios residenciais. É considerado um ponto nobre do município. A Prefeitura de Niterói, diante do apelo popular, abriu uma consulta pública para que a população vote pela mudança do nome da rua, que hoje homenageia um coronel conhecido por sua crueldade. Clique aqui para votar.
PAULO GUSTAVO
Além da genialidade como humorista, o ator era de uma generosidade ímpar. Em uma postagem no Instagram, sua grande amiga Susana Garcia Capri escreveu que Paulo, durante a pandemia, depositou por 3 meses mil reais por mês, para quase 120 pessoas que trabalharam nos filmes que fizeram. “Você mandou um e-mail pra todo mundo das equipes perguntando quem estava precisando de ajuda. E as pessoas foram tão corretas, que várias falaram que estavam conseguindo segurar e que não precisavam”, escreveu a amiga em carta emocionada.
Na crise de Manaus, Paulo Gustavo enviou 500 mil reais para a compra de oxigênio, sem nunca ter divulgado a ação. A generosidade sempre foi genuína e parte da vida deste grande ser humano que perdemos para a Covid-19.
Casado com Thales Bretas, o casal tem dois filhos, de 1 ano e 9 meses, Romeu e Gael. Sua mãe, dona Déa Lúcia, foi a grande inspiração para sua famosa personagem “dona Hermínia”. Juliana, sua irmã, sempre foi uma grande amiga e companheira de vida. Sentimos muito pela perda. O Brasil perde um ícone do teatro e do cinema, precocemente, por causa do descaso do governo federal com a pandemia, desde o início.
Abaixo, o desabafo do escritor Paulo Coelho, que nos contempla:
“Assassinos de Paulo Gustavo, quem dizia:
- É só uma gripezinha’;
- ‘Não passa de 200 mortes’;
- ‘Cloroquina resolve’;
- ‘Gente morre todo dia’;
- ‘Lockdown destrói o país’;
- ‘Máscara nos faz respirar ar viciado’;
- ‘Eu obedeço o comandante’.
E por aí vai. Canalhas da pior espécie.”
A jornalista, cantora e poetisa Maíra Santafé, moradora de Niterói, escreveu em suas redes que já vai começar a chamar a rua Moreira César de rua Paulo Gustavo:
“- Sabe onde fica o Hortifruti ali de Icaraí?
– Na esquina da rua Paulo Gustavo com a rua Álvares de Azevedo.
– E o Shopping Icaraí?
– Rua Paulo Gustavo, 229.
Para quem não conhece Niterói: a rua Paulo Gustavo tem um farto comércio, mas também é residencial. Se não me engano são 8 shoppings e galerias. Fora as lojas de roupas, supermercados, mercadinhos, bancos e… Farmácias. Pois é, o que não falta em Niterói é farmácia! Fechou um comércio? Pode apostar, abrirão uma farmácia ali.
Na rua Paulo Gustavo, em uma galeria mais antiga do que eu, meu pequeno cortou o cabelo pela primeira vez. Tinha acabado de fazer 1 aninho, cheio de cachinhos, lindo. Mas em algum momento tinha que cortar, né?
Foi ali também, na rua Paulo Gustavo (no Trade Center), que arrumei meu primeiro emprego. Tinha 19 anos, perguntei na Cacau 7 (antiga loja de roupa) se precisavam de vendedora. Sem saber, estava perguntando à dona. Ela me chamou para trabalhar no dia seguinte. Dona Martha, me tratava com muito carinho.
A rua Paulo Gustavo tem a Beira Mar, logo na esquina com a rua Presidente Backer. Em frente ao Banco do Brasil. Quem não conhece Niterói, quando vier não deixe de comer na Beira Mar. Pão delicioso, doces deliciosos… Perdição!
Tem outra galeria na rua Paulo Gustavo que tem a livraria Gutemberg. Amo aquela livraria! Ficava na entrada da galeria que, por incrível que pareça, não se transformou em uma farmácia. Mas continua dentro da galeria, onde já existia – eram 2 lojas, fechou a maior. Ali, nesta mesma galeria que tem entrada pela rua Paulo Gustavo e pela rua Lopes Trovão, também tinha um cinema. Assisti vários filmes lá, o último acho que foi “O Quatrilho”.
A rua Paulo Gustavo já teve nome de um coronel corta cabeças, um horror! Ainda bem que Niterói tem Paulo Gustavo, para alegrar nossas lembranças sempre que passarmos por ali.”
Nós, dos Jornalistas Livres, apoiamos esta campanha, por entender que a homenagem é mais do que justa. A votação vai até sábado, 8/5, por este link http://consultas.colab.re/PauloGustavo
Sobre Moreira César
Conhecido como “o cortador de cabeças”, o coronel Moreira César foi, entre outras coisas, o responsável pelo assassinato pelas costas do famoso jornalista negro, Apulcro de Castro, episódio descrito por Euclides da Cunha em “Os Sertões”. Historiadores o descrevem como cruel, frio e calculista. Fez parte do grupo paramilitar liderado por Gumercindo Saraiva, que assassinou militares da marinha que organizaram a Revolta da Armada, assim como também de seus simpatizantes. Este mesmo grupo foi responsáveis pela execução de centenas de pessoas, muitas delas não tendo passado por nenhum julgamento ou investigação antes de serem assassinadas. Este assassino é homenageado em vários locais do país, em nomes de ruas e até bairro, em Pindamonhangaba/SP, sua cidade natal.
