Quatro homens com tatuagens nazistas estampadas no pescoço e braços atacaram um homem de 48 anos dentro de sua casa em Itaguara, cidade da Grande Belo Horizonte, no final da tarde da última terça-feira. Imobilizado de bruços no chão, a vítima passou por uma sessão de tortura durante 30 minutos. “Foram tapas, pontapés e chutes. Colocaram uma bolinha na minha boca para eu não falar. Me chamavam de gordo, porco, ‘viado’. Dois seguraram meus pés, o outro pisou nas minhas mãos, e o quarto, com uma faca bem ruim de corte, foi passando, cortando. Eles queriam achar o nervo ciático para me deixar paraplégico, eles falaram isso”, detalhou à repórter Carolina Caetano, do jornal O Tempo.
Nessa quarta-feira, com dificuldade para caminhar e apresentando ferimentos no corpo após atendimento médico na Sata Casa da cidade de 12 mil habitantes, a vítima mostrava ainda a frase “Na outra você morre” escrita na barriga. Os agressores foram silenciosos, tiveram o cuidado de fechar as janelas, cortinas e apagar as luzes. As lesões atingiram as costas, nádegas e próximo ao ânus da vítima. Os nazistas, brancos e de olhos claros, usaram um ‘canetão’ para escrever no tórax da vítima e desenhar uma cruz suástica na testa dele.
“Eles ainda injetaram uma substância, meio verde amarelada, no meu pescoço. Cerca de 5ml e eu fiquei meio em devaneios, com alucinações. Acho que foi uma droga para que eu permitisse os cortes, mas, mesmo com essa droga, doeu demais. Eles trouxeram a faca”, contou o pequeno comerciante. Segundo ele, os homens vestiam o mesmo tipo de roupas: blusas de capuz, bermudas e máscaras com um sorriso do personagem de quadrinhos “Charada”. “Deu para perceber nos pescoços que todos eles tinham o símbolo do nazismo, a suástica em preto e o interior de vermelho. Nos braços eles tinham um círculo com uma ave em cima”, afirmou.
Tarde trágica
O ataque foi praticado no final da tarde de terça-feira, após uma cliente sair da pequena gráfica que a vítima mantém junto à sua casa. “Estava no horário de fechar a minha mini gráfica, entre 17h15 e 17h30. Estava me despedindo de uma senhora que estava saindo. Ela não conseguiu fechar o portão porque um indivíduo colocou o pé na frente. Ela não falou nada e desceu como se nada tivesse acontecido. Fui ver o que estava acontecendo e já tinha um rapaz com a faca na mão mandando eu entrar. Os outros três vieram em seguida”, contou a vítima, que pediu para não ter o nome divulgado.
Os quatro homens fugiram a pé levando R$ 200 em dinheiro, um iPod e um celular. Ao ver o modelo do aparelho, um Nokia N95, um dos criminosos ainda deu dois tapas na vítima afirmado que “era para tomar vergonha e comprar um celular decente”. Após o ataque, a vítima gritou pelo vizinho, que possui uma cópia da chave do imóvel, e recebeu a primeira ajuda e foi encaminhada à Santa Casa de Itaguara, onde foi medicada e acabou liberada na manhã dessa quarta-feira. “O próprio médico disse que eles ‘cavucaram’ bastante o nervo ciático e que eu tive sorte de não ter ficado paraplégico. Eles estavam com pressa para ir embora, falavam que não ia dar tempo”, contou.
Quando os quatro nazistas já estavam dentro da casa, um dos criminosos disse: “Falei que te achava, gordinho”. A afirmação pode ter ligação com a abordagem na última semana, quando quatro homens mexeram com a vítima no centro da cidade. “Eu estava andando quando percebi que tinha gente atrás de mim. Essas pessoas me chamaram de gordinho por três vezes. Depois falaram: ‘porco, filho da puta, vou te pegar’. Eu fiquei com medo, atravessei para perto de uma viatura da polícia e eles passaram. Certeza absoluta que são os mesmo eu não tenho, mas as características são as mesmas”, afirmou.
Ainda ontem a vítima não tinha ideia de qual seria a motivação do ataque: “Não sei se pode ter sido pela minha orientação sexual, eu sou muito discreto. Pode ter sido que alguém falou que eu era gay, que morava sozinho. Trabalho em alguns grupos ajudando pessoas na cidade, não teve nenhuma confusão. Não posso descartar hipótese nenhuma, eu creio que seja um grupo de recruta. Quem não é da cidade, mas veio recrutar pessoas aqui”, observou.
“Estou indignado, com dor e me sentindo humilhado. Por pouco eu estaria em uma cadeira de rodas porque eles tentaram cortar a região do meu nervo ciático. Só não conseguiram porque a faca que usaram estava ruim de corte. Eu já havia colocado a minha casa à venda, não por este motivo. Agora quero vendê-la logo para ir para outra cidade”, desabafou o pequeno comerciante, que tem diagnóstico de agorafobia, pânico de permanência em locais públicos.
2 respostas
Com o bolsonazismo, esta gentalha se sente protegida.
que dor na alma ler essa reportagem, nada mais me assusta do que a humanidade…