Natalense relata drama em Macapá às escuras e quase sem água e alimentos

Com previsão de chegada da energia elétrica em Macapá entre 15 e 30 dias, Macapá vive caos com milhares de famílias quase sem comunicação, água e comida. Agência Saiba Mais/Jornalistas Livres conversou com natalense em meio a um cenário de guerra.

Por Rafael Duarte, da agência Saiba Mais

A situação no Amapá é extremamente grave. Dos 16 municípios do Estado, 13 estão sem energia elétrica desde 3 de novembro, quando um dos transformadores da subestação de Macapá pegou fogo. O equipamento pertence à empresa concessionária Linhas de Macapá Transmissora de Energia, controlada pela espanhola Isolux Corsan. Apenas os municípios de Laranjal do Jari, Vitória do Jari e Oiapoque estão com luz, pois são abastecidos por sistemas independentes.

A previsão mais otimista para a chegada da energia na região é de 15 a 30 dias, quando um novo gerador deve chegar à capital. Com a demora no conserto do sistema, a estatal Eletrobras deslocou equipe para auxiliar os agentes do sistema elétrico no reparo.

A prefeitura de Macapá já emitiu decretos de emergência e calamidade pública, estendidos por um prazo mínimo de 30 dias. De acordo com a agência Amazônia Real, há relatos de brigas, tiros e filas enormes para comprar água mineral.

Várias pessoas têm pedido socorro e outras se mobilizado pelas redes sociais, de forma voluntária, para ajudar as famílias que estão sem energia, água potável, além de verem os alimentos desaparecerem das prateleiras dos mercados. A CBN é o único canal de comunicação tradicional local funcionando e mesmo assim quase toda a programação retransmite notícias do eixo Rio/São Paulo.

A agência Saiba Mais entrou em contato com uma natalense que mora em Macapá. Ela aceitou falar sobre o caos na cidade sob a condição de anonimato porque trabalha em uma das empresas que vêm prestando socorro às famílias. Ela narra um cenário de caos que se agrava na medida em que as horas vão passando:

– Como não tem luz e a maioria das casas tem poço, então não tem água desde ontem (quinta-feira) em muitas casas. Mesmo as casas que têm caixa d’água abastecidas diretamente pela CAESA (empresa que fornece água) têm tido dificuldades para o abastecimento porque a água chega muito fraca, quando chega”, diz.

Prefeitura de Macapá editou decreto de calamidade pública e população está disputando água em carros-pipa (foto: prefeitura de Macapá)

Sem energia, a comunicação entre os moradores também tem sido afetada. No geral, a população ou vai para os shoppings ou aeroporto, que contam com geradores particulares. Muitas pessoas têm se abrigado nos dois shoppings da capital a procura de caixas eletrônicos e das tomadas para carregar os aparelhos eletrônicos, como celulares.

– Não se encontra mais para comprar: água potável, vela, gelo e chip da Vivo (única operadora que está funcionando)”, relata.

Às margens do rio Amazonas também estão repletas pessoas tomando banho, lavando roupa e se divertindo. Como os postos de combustíveis também precisam de energia para funcionar, a situação vem piorando:

– Os pontos das cidades que têm luz são próximos a postos de combustíveis e hospitais. Pouquíssimos estabelecimentos estão aceitando cartão, então, estão superlotados e já quase desabastecidos. Alguns postos de Macapá e região metropolitana já tem energia mesmo que por apenas algumas horas”, conta.

Num cenário de guerra, moradores têm se ajudado doando parte da energia concentrada em baterias com mais de uma saída. A prefeitura de Macapá também está providenciando carros-pipa para abastecer a população:

– Aqui o pessoal enche seus garrafões, pega baldes de água, carrega baterias e celulares. O pessoal aqui costuma ter um sistema de bateria para ligar uns poucos aparelhos eletrônicos que dura umas 5 horas. É o que tem ajudado a terem ventilador em casa”, ressalta.

Os caixas eletrônicos também não funcionam sem energia, à exceção dos equipamentos instalados onde há gerador particular. Com isso, a circulação de dinheiro está diminuindo no comércio. A maioria dos estabelecimentos comerciais só aceitam dinheiro vivo e já é raro achar algo perecível:

– Meu marido foi na rua hoje (sexta-feira) sacar dinheiro. Saiu às 9h e chegou às 16h em casa. Só conseguiu porque viu de longe um cara que ia pagar a feira do mercado com dinheiro. Correu lá e pediu para passar o cartão e ficar com a grana do cara”, diz.

Mesmo passando a maior parte do tempo na rua, a natalense sente as dificuldades quando retorna. A piscina da casa já ganhou as funções da caixa d’água:

– Na minha casa não tem luz desde o dia 3 (terça-feira), quando começou. Ainda temos água porque temos piscina. Estamos tomando banho com essa água e segurando a água da caixa, que é potável. Recentemente coloquei um filtro porque a água daqui tem muitos metais pesados”, conta.

À reportagem, a potiguar afirmou que não tem informações sobre como estão os hospitais e admite que os moradores vivem apreensivos com o eventual aumento da violência em razão da falta de energia, de água e comida na cidade:

– Não sei te dizer se aumentou. Por aqui não ouvi relatos, mas acredito que se não aumentou, vai aumentar”, encerra.

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