Não calarão a Juventude

Por Marcelo Rocha, colaborador do Jornalistas Livres

Logo que acordei me deparei com uma cena que me trouxe um flashback na mente. Há alguns anos, voltava de Brasília onde fui fotografar a despedida da presidenta Dilma do Palácio do Planalto e quando peguei o celular me deparei com uma foto de vários jovens dentro de um ônibus da Polícia Militar de São Paulo. Depois de dias ocupados na Diretoria de Ensino do Centro Oeste, lutando por merenda escolar, os jovens são arrastados para fora do espaço sem qualquer mandato judicial, apenas com um pedido do até então secretário de segurança pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal.

Vi aqueles jovens sofrendo tortura psicológica dentro de um ônibus acompanhado por policiais militares que, segundo relatos, ameaçavam e zombavam daqueles que lutavam por uma educação diferente.

Hoje, 25 de março, pela manhã em Porto Alegre, deparo-me com cena semelhante: um ônibus com 13 garotas e três rapazes sendo conduzidos ao presídio após se manifestarem contra a condenação do ex-presidente Lula. Mais uma vez jovens sofrendo com o terrorismo de Estado. Estado esse que busca criminalizar qualquer uma dessas pessoas. Detalhe é que estou passando por dois casos, não esquecemos dos 18 do Centro Cultural São Paulo (CCSP), do olho da estudante Débora Fabri ou de tantos e tantos outros casos que a política institucional junto com o judiciário busca criminalizar.

Eles não suportam a ideia de que a juventude tenha voz, nos retiram dos processos políticos com um cenário composto por homens velhos e brancos. Mas não precisamos disso pra ter voz, a nossa voz ultrapassa as instituições. E isso não quer dizer que estamos desistindo, em todos os lugares que não querem nos ver, estaremos lá e perturbaremos seu sono. Derrubamos e denunciamos vários processos que fomos excluídos de construir – e tentaram impor sobre nós.

Não quero ouvir mais um dia sobre renovação se essa não seja composta por esses que estão nas ruas. Valorizo e estudo muito os teóricos do passado, pois muitos vieram antes de nós, mas que possamos narrar nossa história, como povo latino, como juventude, como brasileiros.

Enquanto os burocratas dormem e esperam o amanhã, nós lutamos para construí-lo. Não nos calarão. E se acha que está pesado, não arredaremos o pé, pois a luta está só começando.

“Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram
Suas leis, para nos escravizarem.
As leis não mais serão respeitadas
Considerando que não queremos mais ser escravos.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.”
– Bertold Brecht

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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