NA TERRA AINDA ENCONTRAR NOVO O QUE NÃO É SEU.

 

 

Sentou-se à mesa desnorteado ao brilho de suas lentes, abriu a mala empoeirada temendo as minúsculas baratas que pegam carona ao retorno das aldeias. Não sabia o motivo da tristeza que o acometia sempre ao fim das viagens; um vazio imenso inunda a vida quando encerram-se os atos, barcos ou voos. O the end joga o fotógrafo, ser quieto e inquieto acanhado entre a fauna social das profissões, ao pânico dos arquivos a serem abertos em fim de empenho. A dúvida perversa da comunhão ou a parceria limpa e clara, gestos de pura intimidade, carência entre os ausentes a ser revelada. Ser fotógrafo  é recolher sentimentos e oferecer o pescoço, é ser definido ou identificado como coruja, gavião ou até como jabuti, pelos indígenas, sei bem.  Deve ser pela rapina, silêncio ou oportunidade em aguardo da boa cena e alimento.

A fotografia talvez seja a literatura da decadência, pois tal arte e invento sempre desperta nos humanos umas saudades; muitas delas segredos, córregos ou vicissitudes.  

Tal índio insiste, o homem que era também fotógrafo, tinha hábito de abrir livros para pegar no sono. Naquela noite lhe caiu à mão Charles Baudelaire, prefaciando Allan Poe: “mas o que os professores não pensaram é que, no movimento da vida, tal complicação, tal combinação, pode se apresentar completamente inesperada por sua sabedoria escolar. Então sua língua minguada  se encontra em falta, como no caso – fenômeno que se multiplicará com prováveis variantes – no qual uma nação começa pela decadência e estreia onde as outras terminam.”

O fotógrafo inventa aquilo que a solidão lhe dá. Do amor tudo passou, sabe, restam outras guerras, desfeitas ou insanidades a se lançar ao ensaio. Quando se assume os pecados dos alheios, aqueles que reportam em foto, define-se os caminhos tortos e seus aclives.

A fotografia é redonda, uma bola, redonda como um olho, algo para se chutar como antigos cachorros magros, mas ficam na fúria.

 

João Bittar, um dos precursores da boa fotografia em jornalismo no Brasil, leve pluma, insistia em Robert Capa, ué, se tua foto não está boa é porque você não chegou suficientemente perto.  Insônia. Ser índio é saber o centro da roda, é o tal perto do Bittar.

Cansado os homens rezam em canto perdido a dor na partida desse momento. Hoje há fúria e ameaça entre os comandantes, a tal bomba nuclear voltou à moda. A jornada agora exige passos largos, boa fé diante das confissões, grito certo e forte para o golpe certeiro como no Huka Huka do Xingu. Não há espaços para refúgios ou fadigas.

Movimento do vento se faz em caracol entre a poeira do grande pátio circular das etnias. Por mero abandono a poeira sobe ao pisar de muitos. Anda nu o fotógrafo. Futuros amantes, a fotografia e a vida esperam o próximo movimento. 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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